capítulo 101

📓 Narrado por Miguel Satamini — Quarta-feira, 23h47 da noite

A rua tava fria.

Fria de um jeito que cortava o ar, mas ainda assim não bastava pra esfriar o que eu sentia.

O vento batia contra o rosto, o terno aberto, o corpo tenso e nem o álcool fazia efeito.

Renato podia rir o quanto quisesse, mas ele não fazia ideia do inferno que era tentar manter o controle quando a porra do nome dela não saía da cabeça.

> Clara.

O nome vinha e voltava, como uma febre.

E quanto mais eu tentava apagar, mais queimava.

Entrei no carro, o silêncio me engolindo de novo.

Liguei o motor, mas não saí.

Fiquei ali, com as mãos no volante, o olhar perdido na avenida vazia, sentindo o som do próprio coração bater no mesmo ritmo das lembranças que eu não queria ter.

Ela me encarando no escritório.

A voz dela firme, dizendo “então comece me deixando ir”.

E o jeito como virou as costas, sem olhar pra trás.

Aquilo não era coragem era desprezo.

E, de alguma forma, me atingiu mais do
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