**Narrado por Clara**
A música flutuava no ar, densa como uma névoa, quase impossível de ignorar. Mesmo em movimento, meus passos eram automáticos; não havia alegria em estar naquela pista de dança. O odor de álcool, misturado a perfumes marcantes e a fumaça de cigarro, invadia minhas narinas, fazendo meus sentidos clamarem por alívio.
Lacerda, ao meu lado, parecia desfrutar do jogo em que estávamos involuntariamente. Sua mão em minha cintura era uma pressão excessiva, e o sorriso que exibía denunciava um interesse por mim que transcendera o ambiente profissional da reunião.
— Diga-me, Clara... sua voz ressoou em meu ouvido, grossa e carregada de uma confiança que me incomodava. — Uma mulher como você não pode estar sozinha. Namora? Tem alguém?
Senti meu corpo se enrijecer, mas preservei a compostura. — Minha vida pessoal não está em pauta. respondi, com firmeza e em tom sereno.
Ele soltou uma risadinha baixa, inclinado para mais perto, como se visse minha resposta como uma provoca