O café fumegava nas canecas improvisadas — uma xícara lascada, uma caneca de metal com tinta seca no fundo e um copo de vidro que já tinha sido de geleia. Sentados ao redor de uma mesa instável no canto do ateliê, Clarice, Daniel e Leonardo pareciam uma trégua mal ensaiada. Cada um com seu próprio universo girando atrás dos olhos.
— Esse café tá horrível — Daniel resmungou, depois de um gole cauteloso. — Você colocou tinta junto, Clarice?
— Eu não sou barista, sou pintora — ela rebateu, rindo. — E foi você que pediu “um café forte”. Isso aí levanta até zumbis.
— zumbis e de ressaca, talvez — ele retrucou, esfregando os olhos. — E você, Leonardo? Já se arrependeu de nos visitar?
Leonardo sorriu, aquela calma elegante ainda grudada nele como perfume caro. — Ao contrário. Eu estava precisando exatamente disso: gente real. Bagunça, sarcasmo… tinta no cabelo.
— E no sapato, na calça, no orgulho — Clarice completou, limpando uma mancha azul da própria mão com um pano molhado.
— Isso tudo fo