A carta com o cheirinho do perfume do CEO.
Clarice,
Se você está lendo isso, é porque não estamos mais no mesmo lugar. E não me refiro apenas ao espaço físico. Estou falando do abismo entre o que fomos e o que sobrou de nós. Ainda me pego perguntando se você leu tudo em mim — mesmo quando eu não disse nada. Ou talvez tenha lido justamente porque eu não disse nada. Você sempre teve esse dom de decifrar o indizível, de enxergar além da superfície que eu construí com tanto cuidado.
A vida me moldou para não sentir. Para agir. Decidir. Comandar. Ser prático. Objetivo. Frio. Por muito tempo, achei que isso fosse suficiente. E, de fato, era. Até você. Você chegou com suas palavras leves e suas perguntas profundas, com seu jeito inquieto de ocupar todos os espaços, até mesmo os meus silêncios mais bem guardados. Fez me apaixonar sem perceber — ou, pior ainda, percebendo, e ainda assim ficando, enraizando-se em cada fissura da minha existência.
Com você, tentei manter o controle. Você não faz