Patrícia entendeu que havia coisas que, uma vez vistas com clareza, não aceitavam retrocesso.
Não era rigidez. Era consciência.
Miguel dormia profundamente naquela manhã, um sono raro e generoso. Patrícia aproveitou para abrir as janelas, deixar o ar circular, organizar a casa com movimentos lentos. Nada de listas. Nada de metas. Apenas o essencial.
Enquanto dobrava uma manta pequena, percebeu algo simples e definitivo: ela não sentia mais necessidade de se explicar antes de agir. As decisões vinham de um lugar sólido, interno, onde não havia plateia.
Enzo entrou na sala com o celular na mão, expressão neutra.
— Recebi um convite — disse. — Um evento grande. Público. Querem que a gente vá… juntos.
Patrícia não respondeu de imediato. Terminou de dobrar a manta, guardou-a no lugar e só então levantou o olhar.
— E você quer ir? — perguntou.
— Quero entender se faz sentido para você — ele respondeu.
Ela respirou fundo, avaliando não o convite, mas o impacto.
— Não faz — disse. — Não agora