Patrícia percebeu que o cansaço mudava de forma quando não era ouvido.
Não virava colapso. Virava irritação contida, uma rigidez quase invisível no corpo, um silêncio que já não era descanso. E ela conhecia bem esse sinal. Conhecia porque, antes, costumava ignorá-lo.
Agora, não mais.
Miguel dormia no quarto quando o telefone tocou pela terceira vez naquela tarde. Patrícia olhou para a tela, leu o nome e não atendeu. Não por raiva. Por clareza. Esperou o toque cessar, respirou fundo e deixou o celular de lado.
Enzo observou a cena da cozinha.
— Você não vai retornar?
— Vou — ela respondeu. — Quando fizer sentido para mim.
Minutos depois, recebeu a mensagem:
“Precisamos alinhar expectativas. Você anda muito inacessível.”
Patrícia leu sem pressa. Não sentiu culpa. Sentiu diagnóstico.
— Acessível para quem? — murmurou.
Digitou a resposta com poucas palavras, mas absoluta precisão:
“Estou acessível ao que sustenta minha vida. O resto pode esperar.”
Enviou e colocou o celular fora de alcanc