O quarto estava silencioso demais para um lugar onde uma vida acabara de começar.
Patrícia percebeu isso logo após a equipe sair. O bebê dormia sobre seu peito, respirando de um jeito irregular e perfeito, como se ainda estivesse aprendendo a existir fora dela. O corpo de Patrícia doía, sim. Cada músculo lembrava o esforço recente. Mas havia algo maior ocupando todo o espaço interno.
Clareza.
Ela não se sentia transformada no sentido romântico da palavra. Não era um “renascimento”. Era continuidade. Ela era a mesma mulher que atravessara ameaças, tribunais e limites. Só que agora com alguém nos braços.
— Você foi impecável — Enzo disse, baixo, quebrando o silêncio.
Patrícia ergueu o olhar devagar.
— Eu fui presente — respondeu. — Isso é diferente.
Ele assentiu. Aprendera, ao longo daqueles meses, que Patrícia não aceitava elogios vazios. Ela reconhecia processos, não rótulos.
A enfermeira voltou pouco depois, explicou procedimentos, horários, cuidados. Patrícia ouviu tudo com atenção,