Lorenzo Ferraz Saí do hospital com o coração em chamas, o ódio pulsando em cada veia como veneno. Meu sangue fervia, meus punhos cerrados tremiam no volante, e minha cabeça latejava de tanta raiva. Eu estava disposto a cometer uma loucura. Apertei o acelerador até o máximo. O carro parecia voar pelas ruas. Eu não ligava. Poderia muito bem causar outro acidente, morrer, matar... Nada mais fazia sentido. Eu só conseguia pensar em uma coisa: Matar aquela desgraçada da Marina. Assim que a vi parada no ponto, como se nada tivesse acontecido, parei o carro bruscamente e saltei como um raio, indo direto ao seu pescoço. Meus dedos cerraram em torno de sua garganta com fúria. — QUANTO VOCÊ GANHOU PARA FALAR AQUILO SOBRE A CELINA, SUA VADIA?! — gritei, completamente fora de mim. Estava prestes a esmagá-la quando um braço forte me puxou com brutalidade para longe dela. Na mesma hora, reconheci o dono daquela força. — Heitor?! O que você está fazendo aqui? — Sua mãe me ligou. Disse que v
Heitor Parker Sou Heitor, melhor amigo do idiota do Lorenzo. Um idiota teimoso, cabeça dura, cego pelo ciúme e pelo orgulho. E sinceramente? Tô quase socando a cara dele. Não sei mais o que fazer pra ajudar esse homem a sair do buraco em que se enfiou. O Lorenzo de antes? Sumiu. Agora é um cara amargurado, desconfiado, que transformou a vida dele — e a de todo mundo ao redor — num inferno. Ele não me escuta. Tenho certeza que aquela garota, a tal Celina, não fez nada. Mas quando o cara fica cego por ciúme… é um caminho sem volta. Depois de anos, ele reencontra a mulher, e me arrasta junto pra esse plano maluco de isolamento. Me fez voltar só pra preparar uma casa gigantesca, longe de tudo e todos. Eu juro, nunca pensei que ele fosse tão louco. E olha que o conheço bem. Lorenzo costumava ser o tipo de homem que todos admiravam: generoso, divertido, coração gigante. Mas agora? É só um homem frio, grosseiro e obcecado pelo trabalho — ou pela vingança, vai saber. Ele sempre dizia que
Celina Alves Estava deitada no sofá da casa da senhora Elizabeth, tentando relaxar depois de um dia cansativo, quando aquele perfume invadiu o ambiente. Não era qualquer perfume. Era o cheiro dele. Do meu Lorenzo. O coração apertou no peito. Era impossível não reconhecê-lo. Mesmo que o tempo passasse, mesmo que o mundo desabasse, aquele cheiro sempre faria meu coração bater mais forte. Eu o amo. E vou amar pra sempre. Pode parecer loucura, mas é isso. Sim, ele foi cruel. Sim, ele me fez sofrer. Mas meu amor por ele... é maior que tudo isso. Já perdoei o Lorenzo há muito tempo. Não sou de guardar rancor, e aprendi que guardar dor só nos destrói por dentro. Prefiro seguir em frente. Prefiro acreditar no amor que sinto. Mesmo que ele tenha duvidado de mim, mesmo que tenha me deixado, mesmo que tenha feito tudo errado. Ele merece meu perdão. E eu mereço paz. — Cadê ele? — perguntei, me sentando de repente no sofá, sentindo meu peito disparar. — Ele te viu, não esperou eu falar n
Celina Alves — Vamos buscar, titia Tamara! — Luan b**e palminhas, empolgado. — Ebaa, mamãe! É verdade que a tia Tamis vai vir pra cá? Viu, agora só falta o papai vir. Por que ele não vem logo? Essa pergunta me corta como uma lâmina. Toda hora é isso. Luan quer saber por que o pai não está aqui, por que ele não vem vê-lo, e eu não sei mais o que inventar para acalmar seu coraçãozinho. Ele sente falta. E eu também. Só que Lorenzo se trancou naquela maldita casa como se o mundo aqui fora não importasse mais. E ninguém consegue entrar. Nem com reza brava. Se eu pudesse, enfiava um trator naquela cerca e derrubava o portão. A casa é toda cercada por muros altos, câmeras, sensores… parece uma prisão de luxo. E pra abrir aquele portão? Um verdadeiro ritual. O pior é que ele deixou o celular descarregar, ou desligou de propósito. Ninguém consegue falar com ele há dias. Meu coração não está nada bem com isso. Assim que eu voltar do aeroporto, vou até lá com o Heitor. Dessa vez, nem que
Celina Alves Descobrimos o hospital em que ele estava internado e partimos para lá sem pensar duas vezes. Meu coração já batia acelerado desde o momento em que soube. Mas a aflição só aumentava. Chegando lá, fomos direto ao balcão de informações. A atendente parecia não saber de nada. Eu quase tive um colapso. — Moça, olha aí outra vez, por favor... É um paciente que deu entrada no hospital por ter inalado muita fumaça. O nome dele é Lorenzo! — minha voz já beirava o desespero. Ela digitou, olhou o sistema, demorou... e então finalmente respondeu: — Ah, sim. Encontrei. Ele está na UTI. O médico responsável é o doutor Elias, vou encaminhá-los para ele. Até que enfim! Fomos para onde ela indicou, pegamos o elevador e andamos por corredores intermináveis. O hospital era enorme. Tudo parecia frio, silencioso e sem vida. Como se o tempo ali estivesse congelado. — Por que um hospital precisa ser tão grande? — murmurei, apertando o passo, como se quanto mais rápido eu andasse, mais rá
Celina Alves Lorenzo ainda se encontra no hospital, pois ele havia piorado. Sua respiração ainda estava comprometida, e respirar era uma grande dificuldade para ele. Então, o doutor Elias achou melhor que ele permanecesse internado. Era o melhor a se fazer no caso dele, pois ele só não morreu por um milagre. Lorenzo poderia estar morto. Demoraram muito para socorrê-lo, e a grande sorte foi que o fogo não chegou até ele. No entanto, ele inalou uma grande quantidade de fumaça, prejudicando completamente suas vias respiratórias. Aos poucos, ele vai superar. Mas nunca mais será cem por cento. Ainda assim, poderá ter uma rotina normal — exceto no que envolve esforço físico, isso foi bem explicado pelo doutor. Após dias de internação, finalmente ele terá alta. Ficou decidido que Lorenzo ficará na casa da mãe. E mesmo ele tendo me dito que me amava quando acordou… tem me evitado a todo custo. Acredito que a culpa que ele sente é tão grande que mal consegue me olhar nos olhos. Cheguei
Celina Alves Chegamos. E minha sogra veio correndo, ao encontro do “bebê dela”. É assim que ela o chama. Agora vê se pode… Um homem de 30 anos… sendo chamado de bebê. Mas, para as mães, os filhos sempre serão seus bebês. — Meu bebê, que maravilha que você está em casa! Estava com muita saudade de você, coisa linda da mamãe! — Dona Elizabeth diz, indo abraçar Lorenzo. Heitor e eu estávamos a ponto de gargalhar da cara que o Lorenzo fazia. — Mãe, a senhora me viu ontem! Como já está com saudade? E para de me chamar de bebê na frente das pessoas... — ele responde, constrangido. — Meu filho, não é na frente de estranhos. É do seu amigo, que sempre me viu te chamando assim, e da sua mulher. Ninguém é estranho! Elizabeth me olhava, pois sabia que o filho tinha surtado de novo, só que agora a culpa era dela. Ele nem ligou e entrou feito um furacão — sei que estava doido para ver o filho, que estava no quarto do avô. Só ouvi o grito de Luan: — Papai, você voltou! Olha, vovô, o pa
Tamara Borralho Sou linda e gostosa. Sim, tenho que me achar assim, pois sou gordinha. Sempre fui. E, por isso, era muito zoada na escola. Era horrível ouvir todos me chamando por apelidos ofensivos. Quando me tornei adolescente, tudo piorou. As garotas da escola riam de mim, e quando sabiam que eu gostava de algum garoto, faziam questão de me humilhar: — Se enxerga, ô baleia! Você acha mesmo que algum garoto vai querer ficar com uma pessoa como você? Aquilo me matava por dentro. Eu ia pra casa chorando, com o coração em pedaços. Meus pais, no entanto, sempre me diziam que eu era a garota mais linda do mundo. Me ensinavam que eu não deveria ligar para a crueldade dos outros. E foi isso que eu fiz. Quando cresci, me aceitei do jeito que sou: gorda e maravilhosa. Quem não gostar de mim, que se foda! Hoje, moro no Rio de Janeiro — essa cidade linda que eu tanto amo —, mas passei um tempo em Londres fazendo um curso. Fiz faculdade de turismo, mas quero ir além. Quero explorar o m