Isso ainda não a impediu de tentar namorá-lo. Ruby foi ainda mais longe ao enviar uma foto dela e dele em trajes de banho para a namorada de Chris, alegando falsamente que ele sentia algo por ela, mesmo sendo apenas um passeio normal entre irmãos.
— Mandar essas fotos idiotas para fazer a Molly entender errado. O que há de errado com a sua cabeça, Ruby?
— Porque eu te amo, Chris.
— Mas eu não te amo.
— Mas eu te amo há muito tempo. Molly veio depois de mim.
— Me ama o quê? O amor não deveria parecer assim. Se parece mais com uma vadia. De agora em diante, por favor, não venha à minha casa. Mantenha distância de mim e da Molly.
— Eu vou!
— Ruby!
— Eu vim te ver. Paula nunca me impediu.
— Pirralha! Bem, estou curioso para ver se você ousa vir de novo.
Chris a encarou com estranheza e a empurrou contra a parede do quarto. Ruby começou a sentir que algo estava errado, porque Chris nunca tinha sido tão rude antes. No máximo, ele apenas a repreenderia por fingir que não ouvia.
— Você sabia, Ruby? Qualquer homem neste mundo pode transar com qualquer mulher que não ame. Se você quiser, eu faço. Isso também pode ser bom. Só acabaria com tudo rapidinho. — As mãos dele prenderam as dela acima da cabeça dela.
— Chris! — Ele puxou a blusa dela até que ela esticasse.
— Se é isso mesmo que você quer, então talvez eu deva ceder. Depois, eu sigo em frente com a Molly, e você terá o que desejou. Você tem sido brincalhona por tanto tempo; Talvez seja hora de deixar acontecer.
— Chris, não!
Chris a beijou pela primeira vez, mas foi um beijo que Ruby se lembraria pelo resto da vida. Era cheio de raiva e ódio, esmagando-a violentamente até seus lábios incharem. Cada toque era rude e vulgar.
— Depois que você for minha, saia da minha vida também, pirralha!
Naquele momento, suas mãos ficaram geladas e seu corpo rígido antes que ele a violasse além de beijos e toques externos. Ela o empurrou com toda a força, depois correu para fora do quarto dele, rastejando por baixo da cerca para voltar para casa.
Envergonhada demais para deixar sua mãe vê-la. Essa lição a fez perceber a verdade: ele odiava e estava descontente com o que ela havia feito. Ruby não ousou chegar perto da casa de Chris novamente. Acontece que seu pai queria que ela morasse com ele, então ela decidiu ir embora, levando consigo essa sensação nauseante.
Sete anos se passaram, e todos tiveram que crescer. Os pensamentos mudavam inevitavelmente com o tempo. Hoje, ao relembrar o passado, Ruby via apenas uma jovem imprudente que agia sem pensar. Morar com o pai mudara tudo: sua perspectiva, sua mentalidade e a maneira como encarava a vida agora exigiam seriedade e sensatez. No entanto, embora Ruby tivesse mudado, seu coração permanecia o mesmo. Ela não sabia quantos amantes ele tivera, mas em seu coração, ainda havia apenas ele. Ela não conseguia excluí-lo ou se livrar dele; era como se ele tivesse ficado gravado em sua consciência para sempre.
Depois de terminar de guardar as roupas e tomar banho, abriu a janela e olhou ao redor da casa. Na grande casa ao lado, perguntou-se em qual quarto Chris dormia e como ele estava. Nos últimos sete anos, ela quisera saber, mas não ousara perguntar, com medo de que a curiosidade pudesse reacender o amor do passado. Bastava; ela não queria sentir aquele constrangimento vergonhoso novamente. Virou-se, desabou na cama e fechou os olhos. Passou-se muito tempo até que sua mãe subisse para acordá-la para o café da manhã.
— Todos esses pratos são seus favoritos, minha querida.
Amber havia escolhido cozinhar apenas os pratos favoritos da filha.
— Obrigada, mãe. Você fez tanta comida! será que vamos conseguir terminar tudo?
Ruby contou os pratos e viu que eram quatro no total. Ela não tinha certeza se as duas conseguiriam comer tudo.
— Isso é um retorno bem-vindo, minha querida. Você pode colocar o resto na geladeira e comer no dia seguinte. Coma mais. Você emagreceu demais, se quer saber.
— Hmm, isso não pode ser verdade. Acho que já tenho um bom corpo.
A filha olhou para o próprio corpo, discutindo com a mãe.
— Certo, mesmo com um bom corpo, você ainda precisa comer. Ah, amanhã eu tenho que limpar a casa da Paula, Ruby. Você vai ficar em casa sozinha.
— Limpar a casa da Paula?
Ela ficou intrigada, pois era algo novo que acabara de ouvir.
— Nos últimos anos, sempre que a governanta estava fora ou tirava uma licença longa para ir para casa, Paula me contratava para limpar a casa. Agora, Penny e a sobrinha voltaram para resolver alguns problemas familiares. Elas voltam em uma semana, então Paula me contratou para fazer o trabalho doméstico durante esse período.
— Uh, então você vai fazer isso, mãe?
— Trabalhos pequenos ainda dão dinheiro. Além disso, Paula paga bem, então eu faço. Quem me contratar, eu faço. É melhor do que não fazer nada.
— E as suas sobremesas, mãe?
— Eu simplesmente as preparo para os clientes, como de costume. Quando eles vêm buscá-las, eu as entrego. Depois, começo a limpar novamente.
— Então, que tal isso? Amanhã eu ajudo você a limpar a casa da Paula.
— Pode mesmo fazer isso?
— Se a mamãe consegue, por que eu não conseguiria? É só limpar a casa.
— Está bem, está bem. Na verdade, eu queria que você descansasse bastante, não que trabalhasse tanto quanto eu.
— Está tudo bem, mãe. Uma noite de sono é suficiente pra me recuperar. A limpeza é só de manhã, não é? Depois ainda sobra bastante tempo pra descansar. — Ela sorriu para a mãe, sem querer que Amber se esforçasse sozinha. Tudo o que pudesse ajudar, Ruby queria dividir o peso.
— Tem certeza de que quer ir limpar comigo? — Sua mãe arqueou as sobrancelhas com dúvida, porque limpar a casa de Paula também significava correr o risco de encontrar alguém.
— Tenho, sim. — Ruby assentiu com a cabeça para a mãe.
— Amanhã é terça-feira. Acho que o Chris provavelmente vai sair cedo pro trabalho. — Disse Amber como se compreendesse a inquietação da filha.
— Melhor assim, é melhor não vê-lo.
Respondeu Ruby, forçando um sorriso. Só de olhar pro telhado da casa vizinha o coração dela já acelerava; nem conseguia imaginar como ficaria se o visse pessoalmente.
— Não quer saber nada sobre o Chris?
— Saber não mudaria nada, mãe. Eu fiz tantas coisas erradas pro Chris, então não quero dificultar as coisas para ele novamente.
— É bom pensar assim, mas acho que também não faz mal saber um pouco. — Insistiu Amber.
— Mãe... — Ruby lançou um olhar de advertência, sem paciência.
— O Chris ainda não se casou.
Só de ouvir isso da mãe, a colher de comida que segurava na mão ficou suspensa no ar, como se aquilo em que acreditava não fosse verdade: Vou me casar com a Molly.
— O Chris não disse que ia se casar com a Molly?
— Disse, sim. Eles quase chegaram a se casar, mas de repente a mulher sumiu. Depois, descobri com a Paula que ela tinha conhecido outro homem, e então terminaram. Desde então, o Chris teve outras namoradas de vez em quando, mas nunca o vi aceitar casar com nenhuma. Pelo que parece, continua solteiro. Ele tem trinta e quatro anos e ainda não ficou com ninguém.
Amber observava atentamente as expressões da filha. O que viu foi surpresa, não o brilho de alegria que costumava ver antigamente. Antes, bastava mencionar o nome de Chris para os olhos de Ruby se iluminarem.
— Sério? Bem... isso não me diz respeito. É melhor cada um seguir seu caminho. — Ruby abaixou o olhar.
— Tenho vergonha do passado. Não sei como pude fazer aquelas coisas... cada uma mais vergonhosa que a outra. Não é de se espantar que o Chris tenha se irritado e brigado comigo na época.
— Minha filha realmente amadureceu. Eu não errei em te mandar morar com seu pai.
— Quando eu morava com o papai, não dava pra viver à toa, mãe. Todo dia eu tinha que trabalhar e ajudar nas tarefas. Ele é muito rigoroso com a vida dos funcionários da fazenda e com a da nossa família também. Ele me ensinou a levar minha própria vida a sério. Demorei uns dois anos pra me adaptar.
— Mas valeu a pena, não é, Ruby?
Amber percebeu as vantagens de mandar a filha morar com o ex-marido; valeu a pena o tempo que ficaram separadas. Se Ruby tivesse ficado com ela, certamente teria se tornado uma criança mimada, como já havia acontecido no passado.
— Valeu muito a pena. Fiquei bem mais forte. Não faço birra nem sou mimada como antes, mãe. Pode ficar tranquila, não precisa lavar minhas roupas nem lavar a louça pra mim. Eu sei fazer tudo sozinha agora.
— Ouvir isso me deixa tranquila.
Amber sabia muito bem que havia criado a filha da maneira errada, mimando-a a ponto de quase arruiná-la. Felizmente, houve um ponto de virada que permitiu que Ruby enxergasse as coisas com mais clareza.
Depois do café da manhã, mãe e filha lavaram a louça juntas. Em seguida, sentaram-se para ver TV e conversar, como duas pessoas que não se viam há muito tempo. Por volta das nove da noite, foram dormir.
Então, um clarão repentino iluminou o quarto que permanecera às escuras por tantos anos.
O homem no segundo andar da casa ao lado afastou discretamente a cortina e olhou. Ele se lembrava muito bem de quem era aquele quarto.
Ruby.
Tirou a gravata e a jogou no cesto de roupas, depois começou a desabotoar a camisa. Chris acabara de entrar em seu quarto. Ainda não havia acendido a luz, o brilho vindo da casa vizinha chamara sua atenção primeiro.
Será que aquela pestinha voltou? Ou talvez Amber tivesse apenas acendido a luz do quarto da filha.
De qualquer forma, era algo incomum: aquela janela permanecera apagada desde que Ruby se mudara para o interior, sete anos atrás.
Fechou a cortina entreaberta e acendeu a luz do próprio quarto, forçando-se a concentrar-se no trabalho do dia seguinte e não naquela garota travessa do passado.