— Não aja como uma garota precoce. Odeio garotas rebeldes como você, Ruby!
A última lembrança que Ruby tinha de Chris, o garoto mais velho da casa ao lado, era envolta em confusão.
Estava errado vê-lo como um príncipe, desejá-lo para si?
Ela o amava e o admirava, nunca olhara para mais ninguém.
— Você é irritante! Pode parar de me seguir?!
Naquela época, Ruby achava suas broncas divertidas e nunca se sentiu envergonhada.
Mesmo depois que Chris se apaixonou por outra, ela continuou a se agarrar a ele, sem querer desistir.
Não importava quem tentasse impedi-la ou avisá-la, ela não ouvia.
Estava convencida de que havia chegado primeiro, e que ninguém mais tinha esse direito.
Mas estava enganada.
Quando Ruby completou dezoito anos, Chris a puniu de um modo que ela jamais esqueceu.
Desde então, a jovem mal conseguia se aproximar dele novamente.
— Ainda pensando no passado, Ruby? — Perguntou sua mãe com um sorriso gentil, notando o olhar distante da filha.
— Um pouco, mãe. Faz tantos anos que não volto aqui. Tudo mudou tanto. — Respondeu Ruby.
Agora com vinte e cinco anos, ela havia acabado de retornar de outra província, após o falecimento do pai.
A jovem olhou para a mãe Amber, que envelhecera com o tempo, e sorriu.
— Seu quarto continua o mesmo. Vamos dar uma olhada.
Disse Amber, conduzindo-a escada acima, até o segundo andar da casa de madeira.
O piso inferior havia sido reformado em concreto dois anos antes, mas o andar de cima ainda mantinha a sacada branca original ao redor da casa.
Assim que Ruby entrou em seu quarto, um sorriso largo se espalhou em seu rosto.
A pequena cama com cortinas brancas, um guarda-roupa e uma penteadeira eram os únicos móveis do cômodo.
A janela do quarto podia ser aberta completamente para revelar a vista da casa vizinha. No passado, ela adorava usar aquele local para observar alguém secretamente. Mas agora, a paisagem havia mudado completamente. A antiga casa de madeira de dois andares ao lado havia sido transformada em uma casa moderna, mais alta que a dela, a ponto de ser preciso olhar para cima para ver o segundo andar.
— Quando foi que Paula construiu uma casa nova, mãe?
— Uns cinco anos atrás. Os negócios da família de Paula prosperaram muito. Ficaram ricos de repente.
— Com aquele muro alto, você e Paula pararam de conversar, não foi?
— Mais ou menos isso, Ruby. Paula foi trabalhar na empresa, diferente de mim, que continuei dona de casa. Mas ela sempre foi talentosa, administrou o negócio até fazê-lo crescer e se tornar conhecido. E quando Chris começou a ajudá-la, prosperou ainda mais.
As palavras de sua mãe fizeram Ruby hesitar ao ouvir o nome dele.
Parecia que o destino os afastava cada vez mais.
Antes, bastava ela atravessar a velha cerca de madeira para correr até a casa ao lado e brincar.
Agora, um muro de concreto de quase dois metros as separava.
Como atravessá-lo?
Ela teve que aceitar a realidade: viviam em mundos diferentes.
— Está com fome, Ruby? Deve estar cansada depois de dirigir tanto. — Perguntou Amber, pousando a mão no ombro da filha, que ainda fitava o muro vizinho.
— Estou acostumada, mãe. Lá na fazenda do papai, eu também dirigia longas distâncias.
Ela sorriu de leve.
O pai tivera uma nova família, mas sempre a sustentou até que terminasse a faculdade.
Quando ele morreu de uma doença grave, Ruby decidiu doar metade da herança: a casa e o terreno para a nova esposa dele.
— Você não ficou brava comigo, mãe, por eu ter dado metade da herança do pai para Fiona e Nico?
— Seu pai deixou tudo para você, Ruby, o que significa que confiava que minha filha tomaria uma decisão justa. Por que eu ficaria brava, meu amor?
— Fiona foi muito boa com o papai, e Nico é um amor. Eu não quis criar dificuldades.
Apesar da dor de vê-lo amar outra mulher, Ruby sabia que não podia mudar o passado.
Com o tempo, aprendeu a aceitar.
— Sim, eu sei.
— Mas você é minha mãe, a pessoa que eu mais amo neste mundo. — Disse Ruby, abraçando-a.
Sabia bem por que a mãe a havia mandado viver com o pai: com o pouco que ganhava vendendo doces, não poderia bancar seus estudos.
Até as contas de água e luz eram pagas parceladas.
— Papai disse que não me sustentaria se eu não fosse morar com ele. Disse que você estava se aproveitando dele por me criar sozinha.
Na época, Ruby se ressentiu das condições impostas pelo pai, mas certas coisas a fizeram não querer mais ficar ali.
Mudar-se com ele acabou sendo sua última opção.
— Vou voltar a morar com você, mãe. Já entreguei a casa para Fiona, mas ainda fiquei com parte das economias do papai.
— Estou feliz por você ter escolhido morar comigo. Você estava acostumada à vida na fazenda, que tipo de trabalho você vai fazer aqui, minha querida? — Perguntou ela, com a alegria misturada à dúvida.
— Não sei ao certo, mãe. Por enquanto, só quero descansar. Ainda tenho algum dinheiro, e com o que sobrou das economias dele, posso viver bem.
— Está certo. Descanse o quanto quiser. Continuo vendendo doces. Hoje em dia, as pessoas pedem muito por delivery, então nem tenho montado a barraca com frequência.
— Por que não me ajuda a fazer os doces enquanto está de folga? Assim você não se entedia, e eu não preciso recusar tantos pedidos. A maioria quer encomendar de manhã, mas eu não dou conta sozinha. Se você me ajudar, damos conta juntas.
Amber sorriu, já imaginando o lucro crescer.
— Tudo bem. Não vou ficar entediada, exatamente como você disse, mãe. — A jovem, que sempre trabalhou, concordou com a mãe.
— Venha me ajudar a vender sobremesas. Se der certo, abrimos uma lojinha. O que acha?
— Hmm... sério? Isso parece ótimo, mãe. Você tem muitos clientes. Se abrirmos uma loja e contratarmos ajudantes, talvez fiquemos ricas sem nem perceber!
— Pois é!
Mãe e filha se olharam e riram, felizes, sonhando com o futuro.
Mesmo sem uma casa grande, sem um emprego estável para a filha, Amber não sentia ressentimento algum.
— Guarde suas roupas no armário, Ruby. Vou preparar o jantar. Depois que terminar, tome um banho e descanse. Quando a comida estiver pronta, te chamo.
— Tá bom, mãe.
Ruby observou a mãe sair, o sorriso se alargando em seus lábios.
Embora Amber não tivesse ido ao funeral do ex-marido, Ruby sabia que ela já o havia perdoado.
Quando o amor acaba, as pessoas seguem caminhos diferentes. Não se pode forçar o coração.
Pensar assim a fazia sentir vergonha.
Anos atrás, fora imatura e teimosa, agindo sem pensar, sem se importar com os sentimentos dos outros.
Se pudesse voltar no tempo, nunca repetiria aquelas atitudes.
— O que está fazendo, Ruby?!
— Você não está se sentindo bem, então vim cuidar de você.
— Este é o meu quarto.
— Paula me deu permissão.
— E o que você está vestindo, sua pirralha?!
— Ah…
— Quem te ensinou a entrar no quarto de um homem desse jeito? Vai embora! Volte para sua casa!
O que havia passado pela cabeça dela, subindo até o quarto de um rapaz sem sutiã?
Paula não sabia, porque Ruby usava um robe por cima.
Mas quando entrou no quarto de Chris, tirou o roupão, ficando apenas com uma camisola fina demais, revelando mais do que devia.
— Ruby, o que estava pensando ao agir de forma tão vergonhosa?
Ela mesma não sabia o que lhe dera na cabeça para flertar com ele daquele jeito.
Era natural que Chris a tivesse repreendido com tanta dureza.
Em seguida, ele a agarrou e a jogou para fora do quarto junto com o robe.
— Não aja como uma garota precoce.
— Odeio garotas rebeldes como você, Ruby!