No dia seguinte, mãe e filha acordaram às três da manhã para preparar as sobremesas dos clientes. Às sete horas, foram juntas até a casa de Paula para fazer a limpeza.
— Você não precisa levar os equipamentos, Ruby. Lá já tem tudo. — Disse Amber.
— Ok, mãe. — Ruby seguiu atrás dela até a porta. Tocou a campainha da casa ao lado. Momentos depois, Paula mesma veio abrir. Ruby rapidamente ergueu a mão para cumprimentá-la.
— Olá, Paula.
— É você, Ruby? Quando voltou? Nossa, como cresceu e ficou tão bonita! — Paula olhou para ela com um sorriso caloroso.
— Voltei ontem, Paula. Vim ajudar minha mãe com a faxina.
— Que bom! Entre. Penny e Ella não estão, então não havia ninguém para abrir a porta. Desculpe pela demora, Amber.
— Está tudo bem, Paula, eu entendo. Os produtos de limpeza estão na cozinha, como sempre, certo?
— Sim, estão no mesmo lugar. Mas não posso ficar conversando muito, tenho um compromisso hoje. Prometi ir ao casamento da filha de uma amiga, e a cerimônia é na casa dela, esta manhã. Se eu sair tarde, o trânsito vai estar um caos. Então, Amber, por favor, cuide de tudo e tranque a casa quando terminar. Hoje não tem ninguém em casa. Acho que o Chris nem voltou ontem, já que não vi o carro dele na garagem.
— Pode deixar, Paula, não se preocupe. Assim que eu terminar, vou trancar direitinho, como sempre.
— Muito obrigada. Eu vou indo. Ruby, venha me visitar depois para conversarmos mais.
— Está bem, Paula.
Paula saiu apressada, abriu a porta do carro e entrou no banco do motorista. Ruby observou enquanto o carro passava pelo portão e sumia pela rua. Depois, foi fechar o portão e seguiu a mãe até a cozinha.
— Paula confia tanto assim em você a ponto de deixar a casa nas suas mãos enquanto não tem ninguém? — Perguntou Ruby, curiosa.
— Paula e eu somos amigas há muito tempo. Nunca tive o hábito de roubar, e ela sabe disso. Além do mais, as coisas de valor ficam todas no cofre. O que sobra são só as decorações grandes, e convenhamos, eu não levaria nada disso.
— Ah, entendi. E por onde vamos começar, mãe?
— Vamos começar lá em cima. Primeiro o quarto da Paula, depois o do Theo e, por último, o do Chris. Terminamos com o andar de baixo.
— Certo. — Ao ouvir o nome de Chris, o coração de Ruby deu um pequeno salto.
Começaram pela limpeza do quarto de Paula, depois o de Theo. Aspiraram primeiro, depois limparam e poliram tudo até brilhar, finalizando com o banheiro e o piso. Quando estavam prestes a ir para o quarto de Chris, recebeu a ligação de um cliente.
— Cem caixas extras? Por que não avisaram antes? — A expressão de Amber ficou tensa.
— Passaram o número errado. Sem as cem caixas extras, não teremos o suficiente para distribuir entre os funcionários no seminário. Pode me ajudar, Amber? Tudo bem se ficarem prontas um pouco mais tarde. — A voz do outro lado soava aflita.
— Tá bem… vou dar um jeito o mais rápido possível, mas não posso prometer que estará tudo pronto na hora. Aviso se houver algum problema.
— Certo, estou contando com você.
Amber suspirou pesadamente ao encerrar a ligação, o pedido de cem pudins de coco acabara de dobrar para duzentos.
— O que foi, mãe? — Ruby percebeu a preocupação no rosto dela.
— É um cliente, Ruby. Encomendou sobremesas para distribuir aos funcionários no almoço, mas me passou o número errado. Agora pediu mais cem caixas.
— Sério? Vai dar tempo de fazer tudo?
— Vou dar um jeito, mas… e aqui? Como vou cuidar da faxina?
— Isso é fácil, eu termino tudo sozinha. Vou limpar o quarto do Chris, depois assoalho de baixo, passo o aspirador e, por fim, o chão e a cozinha. Só isso, nada difícil. Eu dou conta.
— Tem certeza, Ruby?
— Sim. Vá preparar as sobremesas, mãe. Isso é mais importante.
— É verdade. Então deixo tudo sob seus cuidados, minha querida.
— Pode deixar. E guarda um pouco do pudim de coco pra mim, mãe.
Não querendo que sua mãe se preocupasse com o trabalho aqui, Ruby deu-lhe um grande sorriso.
— Está bem.
Assim que a filha prometeu cuidar das tarefas domésticas, Amber sentiu uma sensação de alívio. Ela rapidamente deixou de lado o esfregão e correu de volta para casa para continuar preparando as sobremesas.
Assim que a mãe saiu, Ruby ficou por um instante parada, sem saber por onde começar. Reuniu os materiais de limpeza do quarto de Paula e foi em direção ao quarto de Chris. Só então percebeu que ele ainda dormia na mesma ala da casa, no mesmo lado onde ficava o quarto dela. O pensamento a fez sorrir sem perceber, os lábios se curvando suavemente enquanto girava a maçaneta e abria a porta com cuidado.
Seu quarto estava envolto em um tom quente e suave: roupa de cama cinza, paredes na cor de fumaça de cigarro. A cama em si estava desarrumada, como se ele tivesse se levantado às pressas sem a menor intenção de arrumá-la.
Ruby foi até lá, dobrou o cobertor com cuidado, esticou bem os lençóis. Passou a mão para tirar o pó e deixar tudo em ordem. Mas, ao afofar o travesseiro, a mente dela divagou, imaginando o rosto dele ali. Quase sem perceber, levantou o travesseiro e o apertou contra o peito.
De repente, congelou. O travesseiro escapou de seus braços e caiu no chão no mesmo instante em que ela se virou para a porta do banheiro. Seu fôlego prendeu quando viu quem havia recém-saído do banho, vestindo apenas uma toalha baixa na cintura.
— Ruby! — Chris não esperava encontrá-la em seu quarto naquele momento. Mas, ao ver os produtos de limpeza ao lado, não demorou a entender.
— Oi, Chris. — Ela levantou a mão num cumprimento distraído, depois se abaixou rapidamente para pegar o travesseiro, sacudiu a poeira e o colocou de volta.
— Paula disse que você tinha ido trabalhar. Eu não sabia. Desculpa. — Ruby juntou as coisas de limpeza, pronta para sair.
— Pare!
— Sim?
— Você não veio limpar o meu quarto? Então continue.
— Mas você está… sem roupa. Tenho receio de atrapalhar.
Ela desviou o olhar, tentando não encarar o corpo dele. Chris ficou surpreso ao ver que a garota que antes o encarava descaradamente agora ficava tão envergonhada.
— Já estou quase pronto. Pode continuar. Não está me atrapalhando, o quarto é grande.
Ele a observou passar o aspirador embaixo da cama. Não tinha medo de encará-la. Podia lidar com aquela "pirralha".
— Quando você voltou? — Chris perguntou secamente, como se não se importasse com a chegada de Ruby.
— Ontem.
— E quando vai embora?
Ruby ficou em silêncio por um momento, enquanto ele vestia a calça.
— O quê? Quando vai embora? — Insistiu ele, já vestindo uma camiseta.
Ruby desligou o aspirador e ergueu o olhar. Doeu um pouco ouvir a pergunta, como se ele quisesse mandá-la de volta para o interior.
— Eu vou ficar aqui.
— Por quê? Por que voltou?
Ruby apertou os lábios.
— Meu pai faleceu, então decidi vir morar com minha mãe.
— E por que voltar pra cá? Seu pai tinha propriedades lá e cuidava bem de você, não?
Ninguém sabia ao certo como Chris tinha conhecimento da situação dela. Era verdade que o pai a sustentava durante os estudos, mas isso não significava que Ruby nunca tivesse se esforçado para retribuir.