Finalmente aula

Uma semana passou em piscar de olhos, coisa incomum para um universitário que assim que abre os olhos quando acorda pede por um feriado.

Diferente dos filmes, a faculdade é um tremendo pesadelo às vezes. Você não gosta de todas as matérias — e, sinceramente, nem tem como ser bom em todas. Na maioria dos dias, você nem sabe se ainda gosta do seu curso. E, em alguns meses, tudo que consegue fazer é empurrar com a barriga, torcendo pra não afundar de vez.

Uma vida social? Bem… você pode escolher entre ela e a excelência acadêmica, porque tempo suficiente pros dois é uma lenda urbana.

Tem festas? Tem. E não são poucos. Dependendo do curso, tem até mais festa do que um fígado humano é capaz de aguentar — regadas a muito álcool, gente meio perdida e, às vezes, drogas que você nem consegue identificar.

No começo, você até tentar participar. Mas logo a faculdade te puxa pelas pernas e te arrasta de volta pra realidade massante que é ser estudante. E é aí que você entende: o glamour fica mesmo só na ficção.

Faltam exatos vinte minutos pro meu “encontro acadêmico” com meu mais novo professor particular. Estou na padaria da esquina, como prometido, comprando os cafés. Não achei os biscoitos que gosto, então levei pães doces. Uma troca justa, espero.

Dez minutos depois, apertei a campainha do apartamento dele.

Augusto atende.

Sem camisa.

Com uma calça de moletom cinza e o cabelo ainda molhado. Sem óculos.

Eu trago café. Ele traz o colapso.

Passo a língua pelos lábios, completamente involuntário, e me esforço para manter o foco no rosto dele — o que, diga-se de passagem, é perfeitamente esculpido . Como é que um nerd pode ser assim?

— Desculpa — ele diz, abrindo mais a porta. — Achei que você fosse chegar um minuto depois do horário.

Dou um sorriso sem graça e entrada. Seguro os copos de café com mais força do que o necessário. Ele percebe e os tira das minhas mãos com um olhar divertido.

— Só pra garantir que você não tome outro banho de café.

— Seria melhor se você não se lembrasse disso — respondo, sem conseguir conter a careta.

— E que graça teria, se eu não visse você ficando vermelho toda vez que a gente se fala?

Ele apoia os cafés na mesa do centro e eu faz sinal pra sentar.

— Fica à vontade. Vou só pegar uma blusa e o caderno.

Graças a Deus , penso.

Se ele ficasse mais dois minutos sem camisa, não sei se eu conseguiria me concentrar em qualquer coisa que envolvesse raciocínio lógico.

A casa é organizada. Tudo no lugar. Um sofá de tecido claro, livros empilhados com método quase obsessivo, uma iluminação de chão charmosa no canto. É acolhedora e… surpreendentemente aconchegante pra alguém que eu encontrei que vivia trancado em bibliotecas.

Me sento, tentando parecer natural. Ajeito os pães doces sobre a mesa e passo os olhos pelo ambiente, evitando a imagem de Augusto com o abdômen à mostra que insiste em se repetir na minha cabeça.

Se sobreviver a essa tarde, talvez eu sobreviva à faculdade inteira.

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