Ignorei o rosto vermelho de raiva do Bruno e virei as costas, caminhando com passos firmes.
Mas eu mal tinha dado alguns passos quando ele me puxou com brusquidão, perguntando num tom gelado:
— Floriana, o que você quis dizer com não quer o meu dinheiro? Está tentando cortar laços comigo?
— Já terminamos. É melhor não haver mais nenhum tipo de vínculo desnecessário. Isso evita mal-entendidos. — Olhei diretamente nos olhos dele.
Pensei no Ricardo, no seu jeito calmo, porém marcado por uma possessividade silenciosa que não perdoava desrespeito.
Ele não era ciumento sem motivo, mas... Se visse outro homem me segurando assim, à força, em público...
Era melhor o outro homem começar a rezar.
Bruno, porém, entendeu tudo de maneira completamente errada. Lançou um olhar para a Isadora e assumiu uma expressão de quem acredita ter compreendido tudo.
— Ah, começou com birra de novo? Tá bom, vou deixar passar. O Grupo Nunes vai fazer uma festa de boas-vindas pro Ricardo daqui a três dias. Eu levo você pra conhecer gente importante. Mas você tem que trocar essa roupa brega. Não quero passar vergonha.
Antes que ele terminasse, respondi de imediato:
— Não precisa. Obrigada.
Ser rejeitado de novo deixou o Bruno visivelmente irritado. Ele rangeu os dentes tão forte que dava para ouvir.
— Nossa, Floriana... Está cheia de atitude agora, hein? Mas essa sua postura arrogante não esconde o fato de que você continua pobre até o osso. Se não quer ir, então vou levar a Isadora. Depois não diga que eu não te dei oportunidade!
Ao ouvir isso, os olhos da Isadora brilharam na mesma hora. Ela se apressou em dizer:
— Bruno, me dá o cartão então! Eu prometo me arrumar direitinho. Não vou te fazer passar vergonha.
Não quis perder mais um segundo com eles. Virei as costas e fui embora, deixando apenas uma frase para trás:
— Espero que, daqui a três dias, vocês continuem tão confiantes assim.
Assim que saí do saguão do aeroporto e respirei o ar fresco do lado de fora, aquela náusea que eu segurava havia tanto tempo finalmente começou a diminuir.
Três anos atrás, quando meus pais arranjaram uma união para mim, eu já estava sufocada pela pressão do casamento. Então implorei ao meu namorado de sete anos, Bruno, que se casasse comigo antes. Queria resolver tudo primeiro e contar aos meus pais depois.
Bruno concordou.
Mas, no dia marcado, na porta do cartório, eu não encontrei apenas o Bruno. Encontrei a Isadora, sua amiga de infância.
— O filho da Isadora precisa de um registro numa cidade grande. Eu vou entrar com ela agora. Quando o documento sair, eu me caso com você. É pelo futuro da criança. Não pensa besteira.
Enquanto eu olhava para as costas dele, caminhando de mãos dadas com a Isadora para dentro do cartório, algo dentro de mim desmoronou para sempre.
Naquela mesma noite, aceitei o casamento arranjado pelos meus pais.
Um mês depois, me casei com o Ricardo.
Um ano depois, nasceu nosso primeiro filho.
E agora, o segundo estava prestes a chegar ao mundo.
Se não fosse por esta viagem para visitar meus pais, eu jamais teria pisado neste país novamente.
E muito menos revisto o Bruno.
Três dias depois, fiz uma maquiagem leve e fui sozinha ao evento, usando uma roupa confortável e folgada.
No instante em que me viu, os olhos do Bruno brilharam, e um sorriso convencido surgiu no canto da boca.
— Você disse que não viria, mas o corpo não mente, né? Se quer que eu volte pra você, pelo menos devia aprender um pouco de etiqueta da alta sociedade. Em eventos assim, usa-se vestido de gala. Olha ao redor: quem mais veio de calça, além de você?
Ignorei completamente o surto de autoconfiança e tentei passar por ele para ir ao meu lugar.
Mas ele se colocou na minha frente, irritado:
— Floriana, eu tô falando com você! Não ouviu? Nossos assentos ficam aqui, perto da porta. Você está indo pra onde?
Afastei a mão dele e respondi friamente:
— Esse é o seu assento. O meu é ali.
Bruno seguiu a direção que meu dedo indicava.
Seu olhar caiu sobre o local mais importante e nobre de todo o salão, a mesa principal.
E, num piscar de olhos, seu rosto ficou sombrio, incrédulo.
Isadora, com aquela língua venenosa de sempre, me lançou um olhar ameaçador e disparou em voz alta:
— Floriana, como você entrou aqui?! E ainda tem coragem de aparecer usando uma imitação da pulseira da Sra. Nunes? Você veio pra causar, né?!
A voz dela ecoou pelo salão inteiro.
Em segundos, todos os olhares se voltaram para mim.