Engoli minhas emoções e decidi não discutir mais com eles. Não valia a pena.
Olhei para o Bruno e falei num tom tranquilo:
— Vocês não vieram me buscar? Então vamos.
O ar ficou pesado na hora, tão silencioso que dava para ouvir uma agulha cair no chão.
Os olhares se cruzaram, e todos explodiram em gargalhadas.
Isadora ria tanto que lágrimas escorriam.
— Ah, não! Buscar você? Você acha mesmo que merece isso?! — Ela apontou para a placa. — Abre o olho, querida. Estamos esperando a esposa do Ricardo. Você sabe quem é essa mulher?
Claro que eu sabia.
Porque essa mulher era eu.
As outras pessoas fizeram coro.
— Floriana, para de viagem! Você não serve nem para carregar os sapatos da Sra. Nunes! Dizem que o Ricardo é frio e decisivo nos negócios, mas na vida pessoal... É um romântico de primeira. Nunca se casou antes porque estava esperando a esposa atual.
— Isso mesmo! Falam que, para conquistar o Ricardo, é melhor conquistar a esposa dele. Ela é o xodó absoluto do homem!
Enquanto eu ouvia tudo isso, meus lábios se curvaram quase sem querer.
Três anos de casamento, e o Ricardo não só administrava a empresa com maestria como sua fama de marido devoto crescia mais rápido que qualquer investimento dele.
Isadora, que adorava vasculhar fofocas sobre magnatas, se empolgou ainda mais.
— Dizem que, para agradar a esposa, o Ricardo comprou uma pulseira símbolo do amor eterno, avaliada em cinco milhões! Deixou mulheres do mundo inteiro enlouquecidas de inveja!
Ela fez uma pausa dramática, até que seus olhos caíram sobre o meu pulso.
E então sua voz deu um salto de oitava.
— Peraí... É essa pulseira aí!
O ambiente ficou subitamente silencioso. Todos prenderam a respiração, olhando fixamente para a pulseira no meu pulso.
Bruno agarrou minha mão de repente e examinou a peça de cima a baixo.
— A cópia até que ficou boa. — Ele debochou. — Quem te deu isso? Algum pobretão se esforçando demais?
Afastei a mão com um movimento seco e dei um leve sorriso, enquanto meus dedos deslizavam pela pulseira.
Aquela era a lembrança do nosso primeiro aniversário de casamento, um presente do Ricardo.
Não era a joia mais cara que ele já me dera, mas, para mim, carregava um significado insubstituível.
Para mim, era símbolo de amor.
Para eles, era algo tão inalcançável que nem ousavam imaginar.
Ao notar que eu não demonstrava vergonha nem desespero, os olhos do Bruno se estreitaram. De repente, ele agarrou meu pulso novamente e arrancou a pulseira com força.
Pegou-me desprevenida.
Isadora tomou a joia das mãos dele e a examinou com atenção.
— É... Realmente é mais bem-feita do que a réplica que eu comprei. Mas, olha, eu tenho vergonha na cara. Não usaria falsificação por aí para virar piada dos outros. — Ela ergueu a sobrancelha, sarcástica. — Ou será que... Floriana, você é mesmo a tal convidada ilustre que voltou do exterior? A famosa Sra. Nunes?
Assim que ela terminou, a multidão caiu na gargalhada.
Para eles, aquilo era simplesmente ridículo.
Afinal, quem era o Ricardo?
Um CEO de alcance mundial, famoso por sua visão afiada e decisões cirúrgicas.
E eu?
A ex-namorada descartada pelo Bruno três anos atrás.
Uma pessoa que, na cabeça deles, não valia nada.
Para eles, eu e Ricardo nem cabíamos na mesma frase.
Isadora girou a pulseira entre os dedos, com um ar displicente.
— Floriana, eu adorei essa sua falsificação. Me vende? Não importa quanto você pagou, eu pago o dobro.
Temendo que ela estragasse a joia, falei depressa:
— Devolve a pulseira. Foi o Ricardo que me deu.
Antes que eu terminasse, a mão do Bruno veio como um raio.
Um tapa tão forte que minha cabeça virou para o lado, e o gosto metálico do sangue inundou minha boca.
— Cala a boca! — Ele rosnou entre os dentes. — O nome do Ricardo não é pra você sair falando por aí! Quer inventar que tem relação com ele? Quer me matar, é isso?!
Os funcionários do Bruno também me fuzilaram com os olhos, como se eu tivesse cometido um crime imperdoável.
— Você sabe o que acabou de dizer?! A gente só tem essa chance de deixar uma boa impressão para a Sra. Nunes!
— A matriz vai inspecionar a filial brasileira em breve! Você quer destruir o futuro do Bruno? Ele lutou muito pra chegar a executivo! E você, uma ex-namoradinha pobre, tem que ter moral pra fingir ser a Sra. Nunes?!
Limpando o sangue do canto da boca, virei lentamente o rosto e encarei o Bruno.
Talvez meu olhar estivesse feroz demais, porque ele franziu o cenho, e, por um segundo, o medo atravessou os olhos dele.
Isadora percebeu na hora. E, como sempre, começou a gritar:
— Floriana, sua ingrata! O Bruno ainda estava disposto a te aceitar de volta, e você reage desse jeito? Não seja mesquinha! Mesmo se tiver mágoa dele, você não pode se vingar desse jeito!
Ao ouvir isso, por um instante...
Parecia que eu tinha voltado três anos no tempo.
Não importava o que eu fizesse, a Isadora sempre distorcia minhas atitudes, sempre inventava um motivo para me rebaixar na frente do Bruno.
No começo, o Bruno ainda me defendia, brigava com ela.
Mas, mais tarde, ele passou a seguir o jogo da Isadora e a me criticar junto.
Assim como agora, quando ele me lançou um olhar decepcionado e soltou apenas uma palavra:
— Ciumenta.
Desta vez, porém, ele olhou para minhas roupas e não continuou o ataque como fazia antigamente.
Depois de alguns segundos de silêncio, Bruno puxou uma carteira, tirou um cartão bancário e o atirou no meu rosto.
— Pelo que já tivemos, eu vou deixar essa passar. Tem quinhentos mil aqui. A senha é o seu aniversário. Compra umas roupas decentes. — Ele deu um sorriso satisfeito. — Se não quiser cuidar da criança, daqui a uns dias eu arrumo um trabalho mais apresentável pra você. Relaxe. Eu sou executivo agora, esse dinheiro pra mim não é nada.
Olhei para o cartão.
Depois, para a expressão orgulhosa estampada no rosto dele.
Sob os olhares chocados de todos, afastei a mão do Bruno com calma e, em seguida, alcancei a pulseira nas mãos da Isadora, retomando o que era meu.
— Fique com seu dinheiro. — Respondi, fria. — Eu não aceito esmola de estranhos.