Eu fiquei olhando para o e-mail enviado àquele que confessava minha gravidez ao instituto suíço. Agora, não havia mais nada a fazer além de esperar. Levei a mão ao ventre quase sem perceber, como se quisesse tranquilizar a nós duas.
O diretor respondeu em poucas horas:
"Parabéns por este novo capítulo! Nós preparamos uma moradia familiar a poucos passos do laboratório, e a esposa do Dr. Laurent, nossa obstetra-chefe, reservou pessoalmente todas as suas consultas pré-natais. O mais importante, estamos enviando um membro da equipe para acompanhá-la desde a porta do aeroporto até sua nova casa. Sem carregar malas, sem filas, sem qualquer estresse!"
Fiquei encarando a tela. Sem hesitação. Sem julgamento. Apenas apoio. Algo apertou meu peito talvez a primeira esperança real que eu sentira desde que vi aquelas duas linhas cor-de-rosa.
"Obrigada," digitei de volta, "por me valorizar além das minhas circunstâncias atuais."
No dia da partida, permaneci nervosa no portão de embarque, examinando a multidão em busca do contato do instituto. Uma voz chamou
— Sophia?
Me virei e vi um homem esguio, de olhar gentil, abrindo caminho pela multidão. Eric, de acordo com o crachá, me cumprimentou com uma cordialidade que imediatamente me deixou à vontade. Ele pegou minha única mala com cuidado, como se fosse uma peça rara.
— O embarque prioritário já está pronto. — Disse ele com um sorriso. — O diretor fez questão de oferecer tratamento VIP para nossa pesquisadora estrela.
Quando Eric se aproximou, seu ombro bloqueou por um instante minha visão de uma agitação perto do lounge VIP onde James estava, com Vicky agarrada ao seu braço, de costas, enquanto cumprimentavam um grupo de empresários do Oriente Médio.
Nesse instante exato, James se enrijeceu.
— Alguém acabou de chamar a Sophia?
A risada cristalina de Vicky ecoou.
— Não seja ridículo, James. A Sophia provavelmente está enterrada no laboratório agora. — Disse, puxando-o em direção a uma recepção com champanhe.
Nós nos perdemos na fila em movimento antes que o olhar dele pudesse alcançar nossa direção.
Enquanto caminhávamos para o portão, Eric descreveu animadamente o novo microscópio de dois fótons do laboratório.
— O Dr. Laurent instalou especialmente para a sua pesquisa de proteínas. — Disse, com os olhos brilhando daquele tipo de paixão acadêmica que eu quase já não lembrava mais como era.
Ele ajustou a mala na mão.
— Ah, e a equipe votou por unanimidade para adotar o seu horário preferido, nada de reuniões antes das nove da manhã, e absolutamente nenhum trabalho à noite.
Apertei a mão contra o esterno. Essas pessoas, que nunca tinham me visto antes, esforçaram-se para antecipar minhas necessidades melhor do que James fez em quatro anos de casamento.
Na segurança, Eric me entregou um maço de cartões-postais, com os Alpes cintilando sob um brilho barato.
— Para escrever para casa. — Disse com um aceno encorajador.
A lixeira engoliu todos.
Eric piscou.
— Ninguém para escrever?
Olhei de volta para as janelas do terminal, onde o horizonte da cidade recortava-se com nitidez contra a aurora. Em algum lugar lá fora, James provavelmente analisava as últimas fotos de ultrassom de Vicky durante o café da manhã, com a mão cravejada de diamantes dela repousando sobre o braço dele.
— Não mais. — Respondi, virando-me para o portão.
O avião estremeceu ao ganhar vida sob nós. Eric tagarelava sobre as feiras de agricultores de Zurique.
— Os pêssegos em agosto! Você vai achar que provou a própria luz do sol! — Enquanto eu apoiava a mão contra a janela.
Adeus às fotos em que apenas um de nós sorria.
Adeus à mansão que nunca pareceu um lar.
Adeus, James.