Na véspera do meu 17º casamento, meu marido mafioso prometeu que desta vez, nada atrapalharia a nossa cerimônia. — Desta vez eu garanto, Vitória De Luca. — A voz dele era séria. — Já falei pra Chiara Oliveira: amanhã, mesmo que o mundo desabe, ela vai ter de aguentar sozinha. O bebê na minha barriga já tinha cinco meses. Eu estava com Lorenzo Russo havia três anos, grávida de cinco meses, mas ainda não tinha conseguido realizar sequer uma cerimônia de casamento. Sabe por quê? Porque ele já cancelou 16 vezes. E em todas as vezes, o motivo era a irmã de criação dele, Chiara. Na primeira, ela disse que estava com febre. Eu nem cheguei a vestir o meu vestido de noiva e passei a noite inteira com ele no hospital, só para descobrir que ela tinha apenas um resfriado leve. Na segunda, ela reclamou de dores no coração. Lorenzo me largou para ir vê-la, mas na verdade, ela estava tomando chá da tarde com as amigas. Na terceira, ela disse que tinha medo de trovão. Ele me deixou no altar no meio dos votos, me deixando sozinha para encarar todos os convidados. Mas desta vez era diferente. Há três dias, a carta do Sul do Brasil chegou nas minhas mãos. Meu pai, o velho chefão da família De Luca, me enviou um convite para voltar para casa. Se ele me deixar pela 17ª vez por causa de Chiara, eu vou sumir da vida dele de uma vez por todas.
Ler maisAlguns anos depois, na cerimônia de premiação do Concurso Internacional de Inovação Científica Juvenil.Ângelo, vestindo um terno pequeno, estava no palco. Quando ele recebeu o troféu de ouro, o público o aplaudiu de pé.— Sr. De Luca. — O apresentador entregou o microfone, sorrindo. — Por favor, diga algumas palavras.Ângelo, segurando o microfone, disse com a voz clara e firme: — Agradeço à minha mãe. Ela é a minha inspiração.Eu aplaudi, sorrindo, e olhei para o meu celular.Uma notificação de notícia apareceu:“A família Loureiro, do Nordeste do Brasil, está cheia de dívidas, e seus principais negócios foram vendidos. O chefão Lorenzo tem tido problemas com a esposa, com brigas constantes.”A foto mostrava um flagrante: Lorenzo estava com a barba por fazer, e os olhos, cansados e sem vida. Chiara, com um vestido sujo, parecia estar gritando com ele.Eu apaguei a notificação, calmamente.Depois da premiação, Ângelo correu para mim, segurando o troféu. — Mãe! Eu venci!— Você sempre
Aquele circo chamou a atenção de todos na festa.Lorenzo estava pálido. Os lábios dele tremiam, como se ele quisesse se justificar. Mas foi nesse momento que...— Irmão!Chiara veio correndo, segurando a barriga com uma mão e agarrando o braço de Lorenzo com a outra.— Lorenzo, você disse que ia começar de novo com ela? — A voz dela era de mágoa. — Você vai aceitar o filho dela? E o nosso?A sala inteira ficou chocada, e eu apenas observei a cena, com um sorriso frio.O rosto de Lorenzo ficou branco. Ele tentou se soltar da Chiara. — Chiara! Me solta! Eu só…— Só o quê? — A maquiagem borrada da Chiara revelava seu rosto abatido. — O bebê que está na minha barriga é o seu filho! O herdeiro da família Russo!Ela pegou a mão de Lorenzo e a colocou na sua barriga.Ela levantou o rosto, olhando para ele. — Você prometeu ao meu pai que cuidaria de mim para sempre! Você disse que daria uma família para nós! Como você pode… como você pode pedir para a mulher que você abandonou para ela te acei
Sete anos depois, Centro Financeiro Internacional de São Paulo.Eu andei no salão de festas de braço dado com meu pai. Agora, eu era a líder da máfia do Sudeste do Brasil.— A madrinha De Luca. — Era assim que eles me chamavam.Ângelo De Luca, que estava segurando a minha mão, cutucou a minha palma. Eu dei um sorriso e fiz um carinho na cabeça dele. — O que foi, meu anjinho?— Mãe, aquele homem não para de olhar para você. — Ângelo era muito esperto e me avisou, olhando para o canto sombrio do salão de festas.Lorenzo Russo.Ele estava bem mais acabado, sem a sua arrogância de antes. Chiara estava grudada nele, me encarando com olhos de ódio.Eu desviei o olhar, sem me importar. — Não precisa ligar para ele.Mas Lorenzo veio até mim, de qualquer forma. Ele empurrou Chiara, que estava tentando impedi-lo. Os passos dele eram instáveis, e o cheiro de álcool era forte.— Vitória. — A voz dele tremia de tanta emoção. — Sete anos…Eu o encarei, friamente. Não respondi.— Volte para mim. — El
São Paulo, o salão de festas da família De Luca estava cheio de luz.Os anciões do Sudeste se reuniram para me dar as boas-vindas.— Vitória. — Meu pai disse com a sua voz forte, levantando a taça. — Bem-vinda de volta.Eu também levantei minha taça de cristal, olhando para todas as pessoas na sala. Havia velhos aliados do meu pai, jovens que estavam ganhando poder e até mesmo alguns que me desprezavam por eu ter “fugido” para o Nordeste do Brasil.— Obrigada a todos. — Eu sorri, com a voz calma. — Nesses anos, aprendi muito no Nordeste.— Como o quê? — Alguém perguntou, curioso.— Como… — Eu coloquei a taça no lugar. — Por exemplo, o negócio de docas deles é baseado em subornar fiscais alfandegários. E eu tenho a lista.— O canal de armas deles depende de três intermediários. Um deles já está do meu lado.— Do dinheiro que entra no cassino, dois terços não são declarados. A carta de investigação da Receita Federal vai chegar na mesa da família Russo amanhã.A sala inteira ficou em sil
— O que você está falando?! O que ela foi fazer lá?!O coração de Lorenzo se encheu de um pressentimento forte, e ele sentiu que não conseguia respirar.No segundo seguinte, o celular dele vibrou.Ele o pegou rapidamente, ainda com uma ponta de esperança.Talvez fosse… Vitória?Era Chiara.Antes, ele se sentia frustrado e com dó quando via o nome dela. Agora, sentiu-se irritado e desapontado.— Irmão… — A voz de Chiara não conseguia esconder a alegria. — Eu ouvi dizer que o casamento deu problema…A cabeça de Lorenzo começou a latejar. Ele olhou em volta. Os convidados mal conseguiam disfarçar que estavam adorando a situação.— Chiara, eu não tenho tempo agora…— Eu posso te salvar! — Chiara o interrompeu, desesperada. — Eu já estou na porta da igreja. A família Russo não pode ser motivo de piada. Eu posso…— Pa!Lorenzo desligou na cara dela.Ele finalmente entendeu o que Vitória sentia todas as vezes que ficava no altar.Então era essa a sensação de ser abandonado.— Antônio! — Ele g
A luz da manhã entrava na cozinha, e eu cantava uma melodia do Sudeste do Brasil enquanto fritava bacon e um ovo com a gema mole, lentamente.Era o meu banquete de despedida.Eu puxei a cadeira para me sentar e o garfo mal tocou a gema do ovo.Clic! A porta se abriu.Lorenzo entrou com o perfume de Chiara, carregando um buquê de flores.Eram um monte de flores-do-paraíso, exageradas e chamativas. Amarelo e laranja se misturavam em caules duros.Eu odiava essas flores. Elas pareciam um bando de perus enfeitados, desajeitados e bregas, prontos para a ceia.Mas Chiara amava. Ela dizia que as flores-do-paraíso eram resistentes, como ela queria ser.— Bom dia, Vitória. — A voz dele estava um pouco rouca por causa da noite em claro, mas ele parecia de bom humor. Ele colocou o buquê feio do outro lado da mesa, puxou a cadeira na minha frente e se sentou.— Chiara encheu o saco de novo ontem à noite — Ele reclamou, como se estivesse explicando. — Ela insistiu que o novo analgésico não estava f
Último capítulo