Saulo Prado
Angelina parecia ser outra pessoa diante de mim. Ou talvez não, talvez sempre tivesse sido assim, e eu apenas a romantizara.
- Claro... é claro que você precisa. - soltei, ríspido. - Você sempre precisa. E depois disso, vai precisar de quê? Esperar a morte?
Ela parou, o silêncio cortando o ar. Deu-me as costas, os ombros frágeis tremendo, e percebi o gesto discreto de enxugar as lágrimas antes de apoiar-se na mesa.
- Me deixe, Saulo. É melhor pra você... melhor pra nós.
Levei as mãos ao rosto, tentando conter a raiva que me queimava por dentro.
- Nem a pau. - minha voz saiu áspera, definitiva. - Te dou até o meio-dia pra acabar com essa loucura. Eu não vou me afastar de você.
Me virei para sair, mas parei ao vê-la. Frantesca. Encostada, assistindo tudo como quem se diverte diante de um espetáculo. O sorriso largo, venenoso, estampado no rosto.
- O que você vai fazer? Vai me obrigar, por acaso? - a voz de Angelina soou às minhas costas, ferida, desafiadora.
Não respondi. Ap