Angelina Ribeiro
Saulo sempre foi doce e cordial comigo. Cavalheiro até nos detalhes mais banais. Eu nunca conheci outro lado dele, mas ainda assim o temia. Temia que um dia aquele homem, que parecia feito de paciência e de promessas, me mostrasse uma face oculta, capaz de me ferir. Suspirei fundo, pesado, incapaz de contestar suas palavras.
Ele entrou no meu carro como se já tivesse esse direito, assumiu o volante sem pedir, deixando o dele para trás. As ruas começaram a se afastar devagar, uma a uma, enquanto a minha cabeça latejava. A cada quilômetro percorrido, a realidade parecia mais pesada.
Um filho. Mais um filho. Aos cinquenta e dois.
Era como se Deus ouvisse apenas a ele, apenas Saulo. Ele tinha pedido uma menina há dias, com aquele brilho nos olhos que eu evitava encarar. E agora, ali estávamos, com um exame positivo entre nós dois, como se o próprio céu risse da minha angústia. Eu não conseguia chamar aquilo de bênção. Para mim, era deboche.
Não disse uma palavra sobre o a