Saulo Prado
A semana que havia sido planejada, estruturada, de repente se tornou um inferno.
Com audiências lotadas, pilhas de processos me engolindo, gente me cobrando decisões rápidas como se eu tivesse sangue frio o suficiente para assinar o destino de alguém em minutos. Entre uma sentença e outra, o rosto dela me vinha. Angelina.
Aquela boca que eu queria morder, os olhos que só me olham para me desprezar. Pensei em ligar, pedir uma reunião, nem que fosse sobre uma explicação melhor para a reclamação do seu cliente, qualquer desculpa pra ouvir a voz dela... mas desisti. Seria pior ouvir dela, de novo, que eu não passo de um erro na vida dela. Prefiro suportar a saudade a ter certeza do desprezo.
Chego em casa todo dia e é sempre a mesma coisa. Francesca jogada no sofá, com cara de tédio, como se fosse um móvel esquecido. Minha mãe, Laura, rodando pela casa, arrumando tudo, cozinhando, enchendo os cômodos de cheiro de comida fresca, roupa lavada. Ela se transformou no que eu nunca