Angelina Da Costa
Entrei em casa como quem pisa em ruínas.
Andei de um lado para o outro. Não dormi. Não descansei nem por segundos. A cabeça latejava, o chão parecia longe. Ainda havia no ar o cheiro da espuma rasgada, da madeira quebrada. O lugar onde o sofá costumava ficar não era apenas um espaço vazio, era um buraco dentro de mim.
— Mãe… é só um sofá.
Júlia disse isso pela quinta vez.
E pela primeira vez, eu a olhei como quem encara um abismo entre mundos. Porque ela não entendia. Não fazia ideia do que era aquilo.
"Só um sofá?"
Foram oito meses de luta. De renúncia. De dizer não pra mim mesma. De parcelar. De esperar. De entrar naquela loja do centro com a cabeça erguida mesmo sendo ignorada.
De fechar os olhos e imaginar ele ali, na sala dos meus sonhos. Era ele ou uma viagem para visitar a minha irmã, algum luxo que eu poderia me dar. E eu escolhi ele.
Mas não adiantava explicar. Já não valia mais nada.
— Ok. Já entendi. — ela disse, sumindo pelo corredor.
Raulzinho, como semp