Saulo Prado
Eu estava a caminho do escritório tentando, em vão, me concentrar. A merda daquele julgamento podia sujar minha carreira mais do que qualquer escândalo anterior. O caso em si era grave. Grande. Cheio de imprensa, burburinho e consequência.
Mas o problema real não era o mérito. Era o bastidor. E eu conhecia bem demais esse cenário.
Sávio Duarte.
Empresário do ramo de refrigeração, dono de uma linha de produção gigantesca de sorvetes que abastecia não só o estado, mas boa parte do país. Estava sendo processado por ex-funcionários por carga horária estourada, salários atrasados, descumprimento de obrigações básicas.
E ele era culpado.
Eu sabia.
Sabia porque vi os documentos, ouvi os relatos, li os e-mails.
Mas o resultado do julgamento… já tinha sido negociado.
Débora, minha tia, quem mexeu os pauzinhos. Não me incluiu diretamente na tramóia, só comunicou, como se aquilo fosse parte da rotina. “Está tudo certo, o juiz é nosso.” Como se vender justiça fosse só mais um trâmit