Saulo Prado

Talvez fosse essa a vantagem de ter dois filhos: um me aceitava, o outro me rejeitava. Ou talvez eu não soubesse administrar isso direito. A pergunta me queimava enquanto ouvia, ao fundo, parte da conversa de Angelina com Adson. Eu já caminhava pelo corredor, tentando ir embora depois de me despedir, mas a palavra "pai" ainda ecoava dentro de mim como um trovão. Eu nunca desejei isso. E agora que tinha, parecia ser tudo que mais quis, e tudo isso me inundava, ao mesmo tempo com alegria e dor.

- Dá um tempo pra ele, Saulo - Angelina pediu, e eu apenas assenti, perdido, sem saber onde apoiar os pés. Um menino de cinco anos me via como pai. Mas o que ele esperava de mim? Eu não tinha base, não tinha manual.

- Certo, eu... - comecei, sem terminar, mas ela logo se aproximou.

- Ou não, não dá tempo. Insiste. Ele é mais difícil, só isso. Eu não sei o que te dizer, não sei se peço para esperar ou para lutar.

Ela me olhou tão desorientada quanto eu. E mais uma vez, estávamos dois à