Angelina Ribeiro
A mão que me agarrou no carro tinha o cheiro de suor e óleo; o aperto foi seco, sem cuidado. Senti um braço arrancar Atlas do meu colo, outro se enfiou para trás e puxou Adson pela camiseta, o desespero deles soou como punhaladas no meu peito. Gritei, lamentei, tentei arrancar os cintos, mas havia tantas mãos empurrando, tantas vozes rugindo ordens sufocantes, que logo me vi desgarrada, puxada para fora do carro como um saco de pano velho.
- Deixa a minha mãe! - berrou Adson, agarrando minha perna após chutar a canela de um deles; senti os dedos dele afundarem na minha pele e depois serem arrancados por força. Um homem me ergueu pelos ombros com brutalidade. O mundo virou um borrão de metal, poeira e gritos.
Fomos colocados em dois carros diferentes. Ouvi o choro abafado dos meninos enquanto um motor arrancava longe demais, foi como se arrastassem minha alma junto. Pedi, implorei, esbarrando no peito de um estranho, ofegante:
- Por favor! Levem o carro, levem o que qu