Saulo Prado
Eu já sabia que a sentença estava ganha.
Mesmo com o juiz mantendo aquele ar enigmático, mesmo com as pausas longas e as expressões controladas ou mal disfarçadas da defesa. Bastava olhar para os rostos em volta, para os olhos que se voltavam, cheios de pesar, para dona Helena. Sentada ali, pequena, frágil, exposta. Sobrevivendo com menos do que merecia, com parte do seu benefício mensal tragado por juros abusivos de um banco que explorava a ignorância e a vulnerabilidade de gente como ela.
Angelina não poupou nada.
Era mais do que uma pesquisadora, mais do que uma simples assistente. Naquela manhã, ela foi advogada, com A maiúsculo. Incansável, certeira, afiada.
Conferia documento por documento como se vasculhasse uma cena de crime. Cruzava dados, relatórios, buscava contradições. A cada nova contestação da defesa, ela tinha uma resposta, uma prova, um argumento embasado. Nós trocávamos olhares de vez em quando, não apenas por cumplicidade, mas porque eu temia por ela.
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