LuizaQuando recebi a mensagem confirmando que Júlio havia se entregado, deixei escapar um sorriso. Não um sorriso de alegria, mas de alívio. Eu estava sentada no meu carro, estacionado em uma rua escura, com os vidros fechados e o ar-condicionado ligado no mínimo. Meus dedos tamborilavam o volante com impaciência havia horas. Estava esperando por aquilo como quem espera um diagnóstico terminal — não por medo, mas por fim. Aquele fim significava uma nova etapa, uma abertura estratégica para minha vitória definitiva.— Finalmente... — murmurei, abrindo o celular para reler a mensagem. Breve, objetiva: "Ele foi. Está na cela. Assumiu tudo."Suspirei longa e lentamente, como quem solta um peso do corpo. Não era um alívio completo, mas era o início do fechamento de um ciclo. Júlio tinha feito a parte dele. Ele sabia que, em troca, teria o que eu prometi: dinheiro suficiente para recomeçar em qualquer lugar do mundo, e a garantia de que não seria esquecido. Eu cumpro promessas, principalme
Inspetor ÁlvaroQuando a confissão de Júlio Amaral caiu em nossas mãos, houve um momento de silêncio coletivo na delegacia. Todo mundo sabia que aquilo tinha cheiro de armação. E quando um crime parece redondo demais, é porque tem coisa por trás. Meu instinto não falhava, e dessa vez estava gritando.A primeira coisa que me chamou atenção foi a data da confissão. Coincidia exatamente com o período em que nossas investigações começaram a se aproximar de... Luiza Costa. Irmã da vítima. Mulher do homem que também estava preso por suspeita. Era conveniência demais para ser coincidência.— Eu quero os extratos financeiros do Júlio. Tudo. Movimentações, depósitos, qualquer coisa suspeita nos últimos 30 dias — pedi ao setor de análise, já sabendo que algo viria dali.Dois dias depois, os documentos chegaram. Havia uma transferência vultuosa feita em dinheiro vivo, repassada por uma conta ligada a um fundo controlado por uma mulher chamada Miriam B. Ribeiro. Nome falso. Ao puxarmos o registro
AlexandreO dia amanheceu cinzento, pesado. Havia uma pressão no meu peito que não se dissipava, por mais que eu tentasse focar em outras coisas. Depois do café da manhã com Lara, beijei sua testa e sussurrei que precisava resolver algo importante.Ela me olhou preocupada, mas não insistiu. Sabia que era algo que eu precisava enfrentar sozinho.Entrei no carro e dirigi em silêncio até a delegacia. Cada quilômetro parecia pesar mais do que o anterior. Meu coração batia rígido dentro do peito. Era estranho... durante toda a minha vida, Luiza esteve ao meu lado. Rindo comigo, brigando comigo, crescendo junto. E agora...Agora eu ia encarar minha própria irmã como uma criminosa.Parei o carro em frente à delegacia, respirei fundo e desci. O ar ali parecia mais denso, mais sujo. Como se o próprio ambiente reconhecesse a gravidade do que estava prestes a acontecer.Fui recebido pelo inspetor Álvaro, que me cumprimentou com um aceno breve.— Alexandre, ela está lá dentro. Se quiser, pode fal
AlexandreO tempo passou como um vendaval depois daquela visita à delegacia. Cada dia parecia uma batalha interna, mas também uma redenção. Lara estava radiante com a gravidez, e eu fazia tudo o que podia para manter nossa casa cheia de paz e alegria, apesar das sombras que ainda nos rondavam.Foram meses de preparação, ultrassons, consultas, risos nervosos e sonhos compartilhados. Vimos nosso filho crescer dentro da barriga da mulher que eu amava, e cada movimento dele parecia limpar um pouco mais do passado sombrio que Luiza tinha tentado nos impor.Montamos o quarto do bebê com tanto amor que parecia um verdadeiro refúgio. Lara escolheu tons neutros, delicados, e cada detalhe refletia nossa esperança e nosso amor. Eu me pegava, às vezes, entrando lá sozinho só para olhar o berço, o móbile de nuvens e estrelinhas, imaginando como seria tê-lo em nossos braços.Quando o nono mês chegou, eu já estava dormindo leve. Qualquer suspiro da Lara me fazia saltar da cama. E foi numa madrugada
AlexandreO quarto do hospital estava cheio de uma paz diferente, quase sagrada. Lara repousava na cama, exausta mas feliz, e Miguel dormia serenamente no bercinho ao lado. Eu não conseguia parar de olhar para ele, como se a qualquer momento aquele sonho pudesse escapar entre meus dedos.Foi então que a porta se abriu devagar e Dona Cecília entrou, com Thiago e Júlia logo atrás. Minha sogra segurava um buquê de flores, enquanto os pequenos, com olhos brilhando de emoção, vinham trazendo um ursinho de pelúcia e um balão escrito "Bem-vindo, Miguel".— Meu Deus... — Dona Cecília sussurrou, levando a mão ao peito quando viu o netinho pela primeira vez.Thiago correu até o bercinho, olhando para o irmãozinho como se fosse a oitava maravilha do mundo.— Ele é tão pequeno... — disse, com um sorriso de orelha a orelha.Júlia, mais contida, chegou perto da cama de Lara e a abraçou com cuidado.— Você foi incrível, mana.Lara sorriu emocionada, acariciando o rosto da irmã.Logo depois, meus pai
AlexandreO dia do julgamento de Augusto finalmente chegou. O tribunal estava lotado — jornalistas, curiosos, policiais. Todos queriam ver o desfecho daquele caso que havia tomado conta das manchetes. Eu estava sentado com Lara, que segurava minha mão com força. Meu pai e minha mãe também estavam ali, em silêncio, carregando a dor de ver a família despedaçada por dentro.Augusto entrou algemado, cercado por seguranças. Seus olhos procuraram Luiza no meio da plateia, mas ela não estava lá. Talvez porque soubesse que não havia mais como salvá-lo. Ele parecia menor do que eu lembrava, como se o peso de tudo o que tinha feito estivesse esmagando seus ombros.A acusação foi implacável. Apresentaram provas irrefutáveis: gravações, depoimentos, transferências bancárias, mensagens interceptadas. O promotor falava com convicção, cada palavra era um golpe certeiro. O plano para sabotar o carro, o envolvimento de terceiros, a conexão direta com os ataques contra mim e Lara. Estava tudo lá, escan
AlexandreO dia do julgamento de Luiza chegou. Eu nunca imaginei que precisaria sentar em um tribunal para assistir minha própria irmã sendo julgada por crimes contra mim e minha família. A dor de tudo isso não dava para ser descrita. Lara segurava minha mão, tentando me passar força, e meus pais estavam ao meu lado, cabisbaixos, desolados.Quando Luiza entrou no tribunal, trajando o uniforme bege de detentos, meu coração apertou. Minha mãe não conseguiu conter o choro, escondendo o rosto nas mãos. Meu pai, sempre tão firme, deixava lágrimas discretas caírem enquanto encarava o chão.O promotor apresentou as provas: áudios, transferências bancárias, confissões gravadas, depoimentos do Zeca, o mecânico, e de outros envolvidos. Era irrefutável. Luiza havia planejado tudo ao lado de Augusto, Lucas, Júlio e Zeca. Ela havia se tornado tudo o que nossos pais sempre temeram.Quando o juiz leu a sentença, o peso do momento caiu sobre todos nós:— Luiza, a senhora está condenada a dezoito anos
LaraEu nunca imaginei que, aos 23 anos, a vida me faria carregar o peso de uma responsabilidade tão grande. Quando os pais morreram, o mundo, de repente, se transformou em uma espécie de pesadelo do qual não havia como acordar. Eles partiram em um acidente de carro, e, embora eu tenha tentado me preparar para a dor, nada poderia me preparar para o vazio que se formou no lugar onde antes existia uma família.Eu não tinha noção do quanto minha vida mudaria em um único segundo. Um telefonema. Uma ligação para informar que tudo o que eu conhecia, tudo o que me dava segurança, tinha acabado. O impacto do acidente foi tão forte que, quando eu vi o carro amassado nas imagens do noticiário, nem parecia possível que eles haviam estado ali. A imagem ficou gravada na minha mente, como se ainda estivesse vendo tudo em câmera lenta. Não havia mais dúvidas, não havia mais pais. Eu estava sozinha.Mas não completamente. Meus irmãos estavam comigo. Thiago, com 11 anos, e Júlia, com 14, estavam tão p