AlexandreO dia amanheceu cinzento, pesado. Havia uma pressão no meu peito que não se dissipava, por mais que eu tentasse focar em outras coisas. Depois do café da manhã com Lara, beijei sua testa e sussurrei que precisava resolver algo importante.Ela me olhou preocupada, mas não insistiu. Sabia que era algo que eu precisava enfrentar sozinho.Entrei no carro e dirigi em silêncio até a delegacia. Cada quilômetro parecia pesar mais do que o anterior. Meu coração batia rígido dentro do peito. Era estranho... durante toda a minha vida, Luiza esteve ao meu lado. Rindo comigo, brigando comigo, crescendo junto. E agora...Agora eu ia encarar minha própria irmã como uma criminosa.Parei o carro em frente à delegacia, respirei fundo e desci. O ar ali parecia mais denso, mais sujo. Como se o próprio ambiente reconhecesse a gravidade do que estava prestes a acontecer.Fui recebido pelo inspetor Álvaro, que me cumprimentou com um aceno breve.— Alexandre, ela está lá dentro. Se quiser, pode fal
AlexandreO tempo passou como um vendaval depois daquela visita à delegacia. Cada dia parecia uma batalha interna, mas também uma redenção. Lara estava radiante com a gravidez, e eu fazia tudo o que podia para manter nossa casa cheia de paz e alegria, apesar das sombras que ainda nos rondavam.Foram meses de preparação, ultrassons, consultas, risos nervosos e sonhos compartilhados. Vimos nosso filho crescer dentro da barriga da mulher que eu amava, e cada movimento dele parecia limpar um pouco mais do passado sombrio que Luiza tinha tentado nos impor.Montamos o quarto do bebê com tanto amor que parecia um verdadeiro refúgio. Lara escolheu tons neutros, delicados, e cada detalhe refletia nossa esperança e nosso amor. Eu me pegava, às vezes, entrando lá sozinho só para olhar o berço, o móbile de nuvens e estrelinhas, imaginando como seria tê-lo em nossos braços.Quando o nono mês chegou, eu já estava dormindo leve. Qualquer suspiro da Lara me fazia saltar da cama. E foi numa madrugada
AlexandreO quarto do hospital estava cheio de uma paz diferente, quase sagrada. Lara repousava na cama, exausta mas feliz, e Miguel dormia serenamente no bercinho ao lado. Eu não conseguia parar de olhar para ele, como se a qualquer momento aquele sonho pudesse escapar entre meus dedos.Foi então que a porta se abriu devagar e Dona Cecília entrou, com Thiago e Júlia logo atrás. Minha sogra segurava um buquê de flores, enquanto os pequenos, com olhos brilhando de emoção, vinham trazendo um ursinho de pelúcia e um balão escrito "Bem-vindo, Miguel".— Meu Deus... — Dona Cecília sussurrou, levando a mão ao peito quando viu o netinho pela primeira vez.Thiago correu até o bercinho, olhando para o irmãozinho como se fosse a oitava maravilha do mundo.— Ele é tão pequeno... — disse, com um sorriso de orelha a orelha.Júlia, mais contida, chegou perto da cama de Lara e a abraçou com cuidado.— Você foi incrível, mana.Lara sorriu emocionada, acariciando o rosto da irmã.Logo depois, meus pai
AlexandreO dia do julgamento de Augusto finalmente chegou. O tribunal estava lotado — jornalistas, curiosos, policiais. Todos queriam ver o desfecho daquele caso que havia tomado conta das manchetes. Eu estava sentado com Lara, que segurava minha mão com força. Meu pai e minha mãe também estavam ali, em silêncio, carregando a dor de ver a família despedaçada por dentro.Augusto entrou algemado, cercado por seguranças. Seus olhos procuraram Luiza no meio da plateia, mas ela não estava lá. Talvez porque soubesse que não havia mais como salvá-lo. Ele parecia menor do que eu lembrava, como se o peso de tudo o que tinha feito estivesse esmagando seus ombros.A acusação foi implacável. Apresentaram provas irrefutáveis: gravações, depoimentos, transferências bancárias, mensagens interceptadas. O promotor falava com convicção, cada palavra era um golpe certeiro. O plano para sabotar o carro, o envolvimento de terceiros, a conexão direta com os ataques contra mim e Lara. Estava tudo lá, escan
AlexandreO dia do julgamento de Luiza chegou. Eu nunca imaginei que precisaria sentar em um tribunal para assistir minha própria irmã sendo julgada por crimes contra mim e minha família. A dor de tudo isso não dava para ser descrita. Lara segurava minha mão, tentando me passar força, e meus pais estavam ao meu lado, cabisbaixos, desolados.Quando Luiza entrou no tribunal, trajando o uniforme bege de detentos, meu coração apertou. Minha mãe não conseguiu conter o choro, escondendo o rosto nas mãos. Meu pai, sempre tão firme, deixava lágrimas discretas caírem enquanto encarava o chão.O promotor apresentou as provas: áudios, transferências bancárias, confissões gravadas, depoimentos do Zeca, o mecânico, e de outros envolvidos. Era irrefutável. Luiza havia planejado tudo ao lado de Augusto, Lucas, Júlio e Zeca. Ela havia se tornado tudo o que nossos pais sempre temeram.Quando o juiz leu a sentença, o peso do momento caiu sobre todos nós:— Luiza, a senhora está condenada a dezoito anos
LaraEu nunca imaginei que, aos 23 anos, a vida me faria carregar o peso de uma responsabilidade tão grande. Quando os pais morreram, o mundo, de repente, se transformou em uma espécie de pesadelo do qual não havia como acordar. Eles partiram em um acidente de carro, e, embora eu tenha tentado me preparar para a dor, nada poderia me preparar para o vazio que se formou no lugar onde antes existia uma família.Eu não tinha noção do quanto minha vida mudaria em um único segundo. Um telefonema. Uma ligação para informar que tudo o que eu conhecia, tudo o que me dava segurança, tinha acabado. O impacto do acidente foi tão forte que, quando eu vi o carro amassado nas imagens do noticiário, nem parecia possível que eles haviam estado ali. A imagem ficou gravada na minha mente, como se ainda estivesse vendo tudo em câmera lenta. Não havia mais dúvidas, não havia mais pais. Eu estava sozinha.Mas não completamente. Meus irmãos estavam comigo. Thiago, com 11 anos, e Júlia, com 14, estavam tão p
Alexandre Sou Alexandre Costa, CEO da Costa Empreendimentos, uma das maiores corporações do Brasil. Fui treinado desde jovem para assumir o controle da empresa, e aos 28 anos, quando meu pai se aposentou, fui colocado à frente de tudo. Mas desde então, a realidade de estar no comando não é tão simples quanto parecia. As pressões são intensas, e não se resumem apenas aos negócios. Há também uma batalha constante pela autoridade dentro da família. Meu pai, sempre tão firme e decidido, sempre me disse que a herança da Costa Empreendimentos não seria um presente, mas uma responsabilidade. E, de certa forma, ele estava certo. A cada dia, o peso dessa responsabilidade aumenta. Não é só minha imagem que está em jogo, mas a imagem da família, da empresa, e de todos que dela dependem. O problema atual é o meu cunhado, Marcelo. Ele casou-se com minha irmã, Clarice, e desde o começo, seus interesses sempre foram claros: ele possui uma grande parte das ações da Costa Empreendimentos, e como
LaraQuando a campainha tocou, eu estava no meio de um caos em casa. Meu irmão mais novo, Thiago, estava assistindo televisão com o volume no máximo, enquanto minha avó tentava se aconchegar na poltrona, como se isso fosse ajudá-la com a dor nas costas que a incomodava tanto. Júlia, estava no sofá, desenhando em um caderno, tentando se distrair da bagunça ao redor. A casa estava desorganizada, com brinquedos espalhados pelo chão e roupas por todo canto — e, por mais que eu me esforçasse para dar conta de tudo, não parecia que conseguiria controlar nem o básico.Eu precisava de mais tempo. Mas, ao abrir a porta, me deparei com um homem bem arrumado, de terno, com uma postura rígida e uma expressão que não mostrava nem um sinal de emoção. O que ele queria comigo? Eu mal sabia quem ele era, mas seu ar formal me deixou imediatamente desconfiada.“Boa tarde,” ele disse, com um tom de voz que soava ensaiado, como se estivesse acostumado a dar ordens. “Sou Eduardo Ribeiro, trabalho com Alexa