Narrado por Zeus Marino
Eu já havia gasto muitas vozes dizendo o que não sentiria. Dissera ao mundo inteiro — e a mim mesmo — que amor era distração, que sentir enfraquecia o cálculo, que família era chapa de aço, não coração. Passei a vida inteira articulando saída por números e mapas, não por beijos. E, mesmo assim, ali, com ela à minha frente e o filho respirando naquele outro quarto como se o mundo ainda tivesse algum sentido, todas as frases prontas se desfizeram.
Falei primeiro porque a noite pediu. Falei porque a indecisão cansa. Falei porque o mundo lá fora estava prestes a me cobrar em contratos, e eu preferia pagar o preço por aquilo que importava. Falei porque não suportava a ideia de um dia acordar e descobrir que deixei escapar o pouco que me restava de verdade.
— Léa — comecei, e a palavra saiu por alguma fresta entre a segurança e o medo. — Eu quero me casar com você.
Foi uma frase pequena onde eu coloquei todo o risco que sabia pagar. Esperei por reação. Esperei pela f