Narrado por Léa
O quarto tem o tamanho exato do meu medo.
Cabe a cama, a mala meio aberta, a cadeira com o vestido que eu não deveria ter usado, e um silêncio grosso que cola na pele. Fico olhando para a tranca da porta como se fosse uma oração. Não é. Trancas atrasam perigos—não os apagam.
Preciso sair.
A palavra fica batendo na cabeça como martelo: sair, sair, sair. Não porque eu queira perder—eu não perco. Eu troco tabuleiros. E a Espanha deixou de ser um tabuleiro; virou um poço.
Abro a mala devagar. Meus dedos sabem a ordem de tudo: segunda pele num lado, meias dentro dos sapatos para não ocupar espaço, nécessaire já reduzida ao essencial (alfinetes, base, delineador, um tubo de pomada, as pílulas para quando o estômago vira vidro). O pen drive vai no forro secreto. O dinheiro, dividido em três envelopes feitos de papel pardo, escondidos em três lugares diferentes: fundo falso da mala, dobra interna do casaco, capa de um livro que nunca abro.
Não posso deixar rastro. Rastro é che