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Capítulo 2 – O Fantasma de Leandra

Narrado por Ares Marino

Eu não queria estar ali.

Na verdade, estar naquele leilão era a última coisa que eu queria.

Mas os desgraçados dos meus amigos insistiram, como sempre.

— Vai te distrair — disseram.

— Faz meses que você não pisa fora da mansão — insistiram.

— Leandra ia querer te ver vivendo.

Idiotas.

Leandra está morta.

E eu não vivo.

Eu sobrevivo.

Meu nome é Ares Marino.

Tenho trinta e dois anos.

Sou o mais velho dos três irmãos Marino. O mais calado, o mais frio, o mais letal.

Dizem que nasci com gelo no lugar do coração.

Eles não sabem o quanto estão certos.

Até Leandra.

Ela foi a única que me viu por dentro.

A única que tocou nas minhas sombras e não fugiu.

Minha esposa.

Minha paz em meio ao inferno que eu mesmo construí.

E então, o mundo fez o que sempre faz com tudo que é bom demais: destruiu.

Leandra morreu há sete meses.

Sete meses e quatro dias, pra ser exato.

Num ataque covarde, uma emboscada que era pra me atingir, mas levou ela no meu lugar.

Ela estava indo buscar nossa filha no médico.

Um carro cruzou no caminho. Tiros.

Ela foi atingida duas vezes. Uma no abdômen. Outra no peito.

Ela ainda conseguiu sair dirigindo por alguns metros, tentando proteger a filha.

Quando os paramédicos chegaram, ela estava coberta de sangue, com a mão sobre o bebê, protegendo.

Minha filha, Luna, sobreviveu.

Leandra não.

Desde aquele dia, eu enterrei tudo que me restava de humano junto com ela.

Só restou o Dom da máfia.

O assassino.

O monstro.

Meus irmãos tentam me trazer de volta à superfície.

Poseidon com suas piadas idiotas. Hades com seus t***s na cara e gritos.

Mas não funciona.

Então hoje, para calá-los, aceitei vir.

Apenas por isso.

Um leilão de mulheres.

Algo que eu sempre achei repulsivo, mesmo sendo parte do mundo ao qual pertenço.

Mas, naquela noite, o tédio era maior que a moral.

E, no fundo, talvez uma parte de mim... só quisesse ver se o mundo ainda era tão podre quanto eu lembrava.

Spoiler: é.

Me sentei no fundo do salão. Terno preto. Uísque intocado na mesa.

Observei, com desprezo, os lances.

Homens babando. Mulheres tremendo.

Como se fossem carne.

E então... ela entrou.

Eu paralisei.

O vestido vermelho.

Os cabelos soltos.

Os olhos arregalados de medo.

A expressão de desespero.

Leandra.

Por um segundo, meu coração falhou.

Por um segundo, eu acreditei que estava vendo um fantasma.

Ela era idêntica.

Absolutamente idêntica.

Minha garganta secou.

Meu punho se fechou sobre a mesa.

Meus olhos não piscavam.

— Jovem, italiana, linda... e intacta — disse o apresentador.

Eu nem ouvi os valores sendo ditos.

Não me importava.

Podia custar um milhão, dez milhões... eu daria.

Ela não ia ser de mais ninguém.

Ela era o inferno que eu não esperava.

O espelho distorcido da minha mulher morta.

E isso me enlouqueceu.

Quando os lances chegaram em quatrocentos mil, eu falei:

— Quinhentos.

O salão silenciou.

Sabiam quem eu era.

Ninguém ousaria competir.

Quando o martelo bateu e ela foi “vendida” para mim, algo dentro de mim se quebrou.

Ou talvez tenha despertado.

Levantei da cadeira e caminhei até ela.

Cada passo meu ecoava no salão.

Ela estava tremendo.

Os olhos arregalados, a boca entreaberta.

E então eu fiquei diante dela.

Olhei bem de perto.

Não era Leandra.

Mas era como se fosse.

Os mesmos traços delicados.

A mesma expressão de orgulho ferido.

A mesma boca que me perseguia em sonhos.

— A partir de agora... você é minha — eu disse.

Mas a verdade?

Era eu quem já estava acorrentado.

---

— Como ela se chama? — perguntei ao homem que organizava o evento.

Ele folheou a ficha.

— Isabella. Vinte e dois anos. Italiana.

Fechei os olhos.

A ironia.

Leandra também era italiana.

— Ela é casada?

— Era. O próprio marido a entregou. Jogador. Dívidas altas. Ela era a única moeda de valor.

Covarde de merda.

— Quero ela limpa. Sem drogas. Sem marcas.

— É claro, senhor Marino. Ela está à disposição.

— Ela tem onde ficar essa noite?

— Podemos preparar uma suíte no andar superior.

— Não. Leve-a para minha casa. Agora.

— A... sua casa?

— Por acaso eu gaguejei?

— N-não, senhor. Será feito.

---

Voltei para o carro.

A noite estava fria.

Meus pensamentos estavam mais frios ainda.

A imagem dela, ali, tremendo diante de mim, não saía da minha mente.

Não era apenas por parecer com Leandra.

Era algo nos olhos dela.

Algo que implorava para ser salvo... e ao mesmo tempo, odiava implorar.

Eu conhecia aquele olhar.

Era o mesmo que eu vi no espelho, depois do enterro.

---

Cheguei na mansão e fui direto ao quarto de Luna.

Minha filha estava dormindo.

Sete meses de vida.

Sete meses sem a mãe.

Me sentei ao lado do berço e segurei sua pequena mão.

— Papai viu um fantasma hoje, minha pequena.

Ela respirava tranquila.

— Um fantasma que talvez seja a única coisa que ainda me faça sentir alguma coisa... além de ódio.

Fechei os olhos.

Respirei fundo.

Não sei por que fiz isso.

Não sei se foi a dor...

Ou a loucura.

Mas aquela mulher agora estava na minha casa.

E eu faria qualquer coisa para descobrir quem ela realmente era...

E o que o destino queria me mostrar através dela.

---

No corredor, ouvi os passos.

Eles haviam chegado.

Isabella estava sendo guiada pela governanta, ainda com o vestido vermelho.

Assustada.

Confusa.

Com o queixo erguido, tentando não desmoronar.

Corajosa.

— Traga-a até meu escritório.

A porta se abriu.

Ela entrou.

Nossos olhos se encontraram novamente.

E eu soube, naquele instante, que aquilo não era o fim.

Era o início.

O início de algo que poderia me curar...

Ou me destruir por completo.

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