Narrado por Zeus Marino
A noite tinha um gosto metálico quando a primeira mensagem chegou. Não era um telefonema educado, nem um recado entregue com etiqueta — era um informe frio: dois cargueiros com mercadoria nossa, parados em porto terceirizado; alfândega “reavaliando” documentação; fornecedores pedindo paciência. Uma série de pequenos cortes que, juntos, viram ferida.
Parei de escutar o resto e senti o mundo virar mapa na minha cabeça. As rotas são artérias de poder. Fecha uma, e a casa perde sangue onde menos espera: caixa, favores, confiança. Quando alguém mexe nas rotas, não é blefe. É declaração.
— Quem isso? — perguntei, a voz sem som de surpresa.
Enzo não precisou responder. O olhar dele dizia o nome de sempre. Ares entrou em seguida; a expressão dele havia endurecido em dois graus. Quando o homem de livros de conta e navios fala com a calma de quem já viu bloqueio antes, é porque as peças estão em movimento grande.
— Kodra — disse Ares, sem cerimônia. — Eles acionaram anti