O primeiro encontro

 Andreas

Já se passaram seis anos desde que a Deusa apareceu e me condenou a uma companheira humana. Eu jamais aceitaria compartilhar meu destino com um ser mais fraco do que eu. Os humanos são criaturas horríveis: matam animais, destroem a natureza e tudo ao seu redor. Sinto nojo da maneira como torturam seres indefesos. Nós, homens-lobo, só matamos para nos alimentar — nunca por esporte. Mas os humanos... Eles caçam por prazer, eliminam o que não entendem. Por muitos séculos, nossas famílias e amigos foram caçados por eles.

O tempo passou, e a maioria deixou de acreditar na nossa existência, graças a um feitiço lançado por uma velha amiga bruxa. Ela apagou da mente dos humanos qualquer lembrança de nós. Mas, ultimamente, muitos seres sobrenaturais têm encontrado suas almas gêmeas entre os humanos. É como se a Deusa quisesse nos punir… ou nos levar à extinção.

Assim que saio do banho, visto minhas roupas e caminho até a janela do quarto. Abro-a para sentir a brisa da manhã. Nesse momento, um aroma me atinge — maravilhoso e familiar. Rosas vermelhas, iguais às que minha mãe cultivava no jardim. Há também um toque de mel, misturado com terra molhada. Não consigo identificar ao certo, só sei que esse cheiro me invade por completo.

É quando meu lobo uiva dentro de mim, pulando de felicidade. Na minha mente, ele fala, eufórico:

Nossa companheira. Esse cheiro é da nossa companheira! Precisamos encontrá-la!

As palavras dele me deixam furioso. Eu sei que minha companheira é humana — uma maldita humana. Respondo com raiva:

Cale a boca. Não vou atrás de uma humana fraca!

Você não sabe se ela é fraca. A Deusa da Lua garantiu que ela será a rainha dos lobisomens. Precisamos encontrá-la antes que alguém a machuque..., ele insiste, chorando dentro da minha mente.

De jeito nenhum! E além do mais… ela é uma criança. O que vamos fazer com uma criança?, pergunto com desprezo.

Só quero observá-la de longe. Posso sentir seu cheiro. Ela não está longe das nossas terras, diz meu lobo, animado.

Sabe de uma coisa? Vamos achá-la e matá-la, murmuro, com um sorriso cruel nos lábios.

Mas ele ri como um louco dentro da minha cabeça e debocha:

Você acha mesmo que consegue matar uma criança? Sua companheira? A futura rainha dos lobisomens? A mulher destinada a nos salvar da destruição? Então vamos! Tente matá-la. Quem sabe assim a extinção venha mais rápido.

Ele some, escondendo-se nas profundezas da minha mente. Fico em silêncio, refletindo com sarcasmo. Será que esse bastardo tem razão? Será que não consigo matar uma humana? Agora sou eu quem ri da piada.

Eu, o rei dos lobisomens. De origem pura. A criatura mais poderosa que já caminhou sobre a Terra. Tenho apenas trinta anos e posso viver por muitos mais. Acha mesmo que não consigo matar uma humana? Uma criança remelenta e chorona? Meu lobo é mesmo um idiota.

Desço para o salão principal da casa da alcateia e encontro alguns membros tomando café. Eles se assustam quando me veem entrar e se levantam, abaixando a cabeça em sinal de respeito. Geralmente tomo meu café sozinho — detesto me misturar com os de nível inferior.

Podem continuar. Hoje, vou me juntar a vocês, digo, sentando na ponta da mesa.

Eles voltam a se sentar e o silêncio domina o ambiente — nem mesmo a respiração deles se ouve direito. Não me importo. Estou de bom humor. Hoje finalmente me livrarei dessa maldição. Matarei aquela criança maldita e me casarei com uma loba de verdade.

Tamires foi treinada a vida inteira para ser minha companheira. Filha de alfas, carrega sangue poderoso nas veias. Ela será minha rainha e me dará filhos fortes — não humanos fracos com doenças e sentimentos frágeis.

Mas, enquanto essa suposta companheira viver, ou até que tenha idade suficiente para ser rejeitada, não posso escolher outra. Meu lobo a mataria na primeira noite.

Sim, ele é cruel e sanguinário. Costumo trancá-lo nas profundezas da minha mente quando estou com outras lobas. Mas nunca posso marcá-las. Se eu tentar, ele arranca a cabeça delas em segundos.

Saio da casa da alcateia em busca de ar puro. Corro pela floresta na forma de lobo. Meu corpo prateado é imenso, impossível de confundir com um lobo comum. Se algum humano me visse, teria que morrer — nenhum lobo normal brilha assim sob a luz da lua.

É noite de lua cheia, e meu pelo reflete sua luz como prata líquida. Corro por horas sem perceber o tempo passar… até que escuto um chorinho. E então, de novo, aquele perfume da manhã invade minhas narinas.

Paro. Ando devagar, feliz por ter encontrado a criança que nasceu para ser minha companheira. Está sozinha na floresta. Sem testemunhas.

Aproximo-me em silêncio… até que piso em um galho e faço barulho. Ela levanta a cabeça e me encara. Seus olhos — um de cada cor — cravam-se nos meus, exatamente como vi no dia em que nasceu. É como se ela visse direto dentro da minha alma.

Minhas patas tremem.

A criança, que até então estava sentada no chão, se levanta. Seus olhos ainda presos aos meus.

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