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Vou deixar eles acreditar nessa falsa promessa

Andreas Lykaios

Caminho em forma de lobo na direção da criança, que parece minúscula diante de mim. Não vejo medo em seus olhos, apenas curiosidade. Ela me observa com aqueles olhos peculiares que penetram até o fundo da minha alma. Meus pelos se arrepiam por inteiro só com o seu olhar.

Vou em sua direção disposto a estraçalhar essa criança que se diz ser minha companheira. Não vou deixá-la chegar à fase adulta para tentar me seduzir com as artimanhas humanas. Rosno para ela, deixando claro que não estou para brincadeira, mas a criança sorri e corre para me abraçar, dizendo:

Oi, lobinho! Você veio me salvar? — ela fala, alisando meus pelos, sem demonstrar nenhum medo, me deixando impotente diante dela.

Tento me afastar, mas ela abraça meu pescoço. Mesmo com seus pequenos bracinhos que mal conseguem dar a volta, ela se pendura em mim como um carrapato. Tento fugir das suas garras, mas aquela criança me segura com força. O calor do seu corpo emana pelo meu, como se nossas almas se conectassem. E naquele momento, eu senti uma paz e uma tranquilidade que há muito tempo não experimentava.

Depois de um tempo, a criança adormece abraçada a mim — a criatura mais cruel e perversa do mundo. Um lobo sanguinário que faria qualquer um sair correndo. Mas não ela. Ela tinha que ser doce, ingênua… e ainda ter o poder de me controlar.

Na minha mente, meu lobo sorri de felicidade, dando pulos de alegria.

Ela é tão perfeita, ele fala sorrindo dentro da minha cabeça.

É só uma criança humana insuportável, respondo, irritado.

Não seja bobo, Andreas. Você nunca vai conseguir romper esse laço. Ela é apenas uma criança, e já posso sentir o quanto é forte o nosso vínculo de companheiros, diz meu lobo, Luke, animado.

Não seja ridículo. Vou esperar ela crescer, farei o ritual de rejeição, e tudo isso vai acabar. Você vai ver. — falo essas palavras enquanto observo seu rosto adormecido, tão lindo e sereno.

Andreas, está vindo alguém. Posso sentir o cheiro, Luke diz em alerta.

Certo. Vamos nos esconder e ver quem é o desgraçado. — falo, sentindo uma forte vontade de proteger aquela criança. Me escondo por trás das árvores. A noite está escura, difícil de ser visto.

Um menino de aproximadamente doze anos aparece e diz:

Annabelle! Finalmente te encontrei! Você deixou o papai e a mamãe muito preocupados! — ele fala, acordando a criança, que sorri e se j**a nos braços dele.

O garoto, que mal consegue carregá-la, sai levando a menina de volta para casa, longe da floresta. Um sentimento de ciúmes me atinge com força. A vontade que tenho é de rasgar aquele menino em pedaços. Fecho os olhos, contendo minha raiva, porque sei que ele é apenas seu irmão. Também quer protegê-la. Sigo por entre as sombras, observando os dois chegarem em segurança em casa.

Volto para a casa da alcateia com um sorriso de canto a canto. Meu coração batia forte, feliz. Retorno à forma humana e caminho até o meu quarto. Preciso de um banho para colocar meus pensamentos em ordem. Nada melhor do que um banho gelado para relaxar o corpo depois de uma boa corrida. Mas meus pensamentos não saem daquela menina. Como ela não se assustou comigo na forma de lobo? Um lobo gigante e prateado! Como achou isso normal?

Você é burro ou o quê? — meu lobo diz, rindo. — Ela é apenas uma criança. Provavelmente nunca viu um lobo na vida. Além disso, a força do vínculo faz ela se sentir segura na nossa presença.

Qual o motivo de tanta alegria, sarnento? Nós vamos rejeitá-la quando chegar a hora, falo bravo.

Você não pode ir contra a vontade da Deusa da Lua, mesmo sabendo as consequências, meu lobo fala sério.

Vou arrumar um jeito de burlar esse plano ridículo da Deusa de me acasalar com uma humana inútil, falo, cheio de ideias.

Você que sabe… Depois não diga que não avisei, ele diz, sumindo no fundo da minha mente.

Termino meu banho e coloco uma calça de moletom e uma camiseta. Depois, desço para jantar com minha futura rainha. Sim, Tamires será minha companheira. E não uma criança humana.

Enquanto caminho pelo jardim de mãos dadas com minha loba, vejo muitos membros da alcateia conversando animados. Mas, ao nos verem, se calam e abaixam a cabeça em respeito… ou medo. Continuo andando com Tamires pendurada no meu braço, até perceber que a maioria dos lobos parece estar em festa. Achei bem estranho — não havia motivo para tanta comemoração.

Me aproximo de um grupo de lobos e pergunto:

O que vocês estão comemorando com tanta felicidade? — falo ríspido.

Vejo alguns se encolherem. Então, um menino de aproximadamente treze anos responde:

Estamos comemorando a chegada da nossa rainha! — a criança fala, toda feliz.

Tamires começa a rir alegre:

Obrigada! Vocês são muito gentis! — ela diz, achando que os lobos estão falando dela.

Mas mal sabe ela que eles estão falando da criança humana que chegou ao nosso país. Arrasto Tamires de volta para dentro. Não quero que ela perceba o que está acontecendo, enquanto os lobos comem, dançam e cantam em volta da fogueira.

Achei melhor ficar quieto e não fazer nenhuma estupidez. Vou deixá-los felizes acreditando que aquela criança inútil será minha rainha. Eu nunca permitirei isso.

Mas os lobos de classe baixa temem demais a Deusa da Lua. Os mais velhos têm medo de maldições e superstições. Só que, como a própria Deusa disse: estamos em outros tempos. Precisamos pensar no futuro, não viver presos às tradições antigas.

Nenhum velho vai me dizer o que fazer. Muito menos um punhado de lobos inferiores que mal sabem lutar e sempre viverão sob meu comando. Então, vou deixá-los se iludirem com essa falsa promessa.

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