Quando a voz da Deusa ecoou pela alcateia, os lobos caíram de joelhos, implorando por misericórdia.
— Lobos, os tempos são outros. Não podemos continuar vivendo em guerra com as outras espécies. Eu poderia eliminar todos vocês agora mesmo por me desobedecer. Mas sei que seguem seu alfa, mesmo com uma mente ultrapassada.
Agora, o seu rei me desagradou profundamente ao separar aquilo que eu uni. Ele será castigado, e todos os lobos sofrerão com sua dor.
Neste exato momento, a primeira humana que nasce será a sua companheira, Rei Lykaios.
As palavras da Deusa me fizeram rir, em puro desprezo.
— Eu nunca vou me acasalar com uma criatura tão desprezível quanto os humanos! — falei, rindo amargamente.
Mas, naquele instante, um estrondo terrível no céu me fez cair de joelhos.
— Você ousa desafiar a sua Deusa? Pois bem. Seu destino — e o de todos os lobos — estará nas mãos dessa criança humana que acaba de nascer.
Com essas palavras, a imagem de um bebê humano surgiu no céu, como uma projeção em um cinema.
A Deusa tinha me mostrado a minha companheira.
Uma humana.
Não podia ser.
— Esta será a rainha dos lobisomens, e ninguém será capaz de impedir isso. Todos os lobos se ajoelharão aos seus pés. Ela trará a mudança. Os lobos só voltarão a ter filhos quando os dela nascerem.
Mesmo humana, ela será forte, capaz de se defender de qualquer ameaça. Uma mulher que fará muitas criaturas se ajoelharem diante dela.
A multidão começou a murmurar, os comentários crescendo como um zumbido inquieto.
— Podem perguntar, meus filhos, o que os aflige.
Um dos mais corajosos ergueu a voz:
— Como vamos encontrar essa rainha, minha Deusa?
— Daqui a seis anos, ela visitará esta cidade. Quando colocar os pés aqui, todos vocês sentirão sua força — disse ela com um sorriso.
— Você não poderá matá-la, nem rejeitá-la. Quando a hora chegar, o seu mundo dependerá dela para sobreviver — e você também.
Eu o amaldiçoo: se rejeitar sua companheira, estará condenando seus filhos à morte e a próxima geração de lobos à extinção.
Ela sorriu sinistramente e desapareceu no horizonte.
Por um momento, permaneci imóvel, sem saber se aquilo havia realmente acontecido.
Saí dos meus pensamentos com a voz do meu beta:
— O que vamos fazer agora, meu rei? — ele perguntou, com medo nos olhos.
— Nada. Por enquanto, vou esperar essa criança humana crescer. E então, vou rejeitá-la.
Nunca transformarei uma humana inútil na rainha dos lobisomens — falei, com arrogância na voz.
Meu beta apenas assentiu com a cabeça, sem discutir, embora eu soubesse que ele desaprovava minha atitude.
O caminho de volta para casa estava coberto por escombros. Os ômegas já limpavam a bagunça.
Mas eu já tinha a minha rainha escolhida.
Tamires nasceu para isso.
Passei por entre os membros da alcateia. Todos abaixaram a cabeça sem me encarar.
Assim que entrei na casa da alcateia, Tamires se atirou em meus braços.
— O que aconteceu? — perguntou, com a voz chorosa. — Eu não posso mais ser sua rainha?
— É claro que você será minha rainha. Mas agora, preciso ficar sozinho e pensar no que fazer — respondi, subindo as escadas.
Ela me olhou com os olhos marejados. Mas eu sabia que era só teatro.
A raiva pelas palavras da Deusa ainda queimava em mim.
Eu não sabia onde ela estava.
Me deitei na cama, tentando clarear os pensamentos, mas acabei adormecendo.
Foi quando os pesadelos começaram.
Vi meu filho morrer nos meus braços.
Acordei molhado de suor, com os olhos cheios de lágrimas.
E pela primeira vez na vida… com medo.