A punição

Andreas Lykaios

Quando a voz da Deusa ecoou pela alcateia, os lobos caíram de joelhos, implorando por misericórdia.

Eu me mantive imóvel, tentando parecer firme, mas o covarde do meu lobo tremia de medo dentro de mim.

Quando os clarões dos raios cortaram o céu, pude ver seu rosto. Cada palavra que ela dizia fazia o chão estremecer, como se toda a Terra tremesse sob nossos pés.

Mesmo assim, me mantive firme quando a Deusa começou a falar:

Lobos, os tempos são outros. Não podemos continuar vivendo em guerra com as outras espécies. Eu poderia eliminar todos vocês agora mesmo por me desobedecer. Mas sei que seguem seu alfa, mesmo com uma mente ultrapassada.
Agora, o seu rei me desagradou profundamente ao separar aquilo que eu uni. Ele será castigado, e todos os lobos sofrerão com sua dor.
Neste exato momento, a primeira humana que nasce será a sua companheira, Rei Lykaios.

As palavras da Deusa me fizeram rir, em puro desprezo.

Eu nunca vou me acasalar com uma criatura tão desprezível quanto os humanos! — falei, rindo amargamente.

Mas, naquele instante, um estrondo terrível no céu me fez cair de joelhos.

Foi como se minhas forças vitais tivessem sido sugadas.

O olhar penetrante da Deusa me paralisou por completo.

Você ousa desafiar a sua Deusa? Pois bem. Seu destino — e o de todos os lobos — estará nas mãos dessa criança humana que acaba de nascer.

Com essas palavras, a imagem de um bebê humano surgiu no céu, como uma projeção em um cinema.

Um bebê sorridente, com as mãozinhas estendidas para o alto. Sua pele era clara, os cabelos escuros…

Mas o que a tornava única era a cor dos olhos: um verde como a floresta e o outro azul como o oceano.

No momento em que vi aquele bebê, meu coração palpitou, e meu corpo inteiro se aqueceu.

A Deusa tinha me mostrado a minha companheira.
Uma humana.

Não podia ser.

Fiquei chocado, parado, encarando aquela criança.

Todos ao redor também observavam em silêncio.

Então a Deusa continuou:

Esta será a rainha dos lobisomens, e ninguém será capaz de impedir isso. Todos os lobos se ajoelharão aos seus pés. Ela trará a mudança. Os lobos só voltarão a ter filhos quando os dela nascerem.
Mesmo humana, ela será forte, capaz de se defender de qualquer ameaça. Uma mulher que fará muitas criaturas se ajoelharem diante dela.

A multidão começou a murmurar, os comentários crescendo como um zumbido inquieto.

Então, a Deusa voltou a falar:

Podem perguntar, meus filhos, o que os aflige.

Um dos mais corajosos ergueu a voz:

Como vamos encontrar essa rainha, minha Deusa?

Daqui a seis anos, ela visitará esta cidade. Quando colocar os pés aqui, todos vocês sentirão sua força — disse ela com um sorriso.

Em seguida, se virou para mim, com um olhar carregado de ódio, e declarou:

Você não poderá matá-la, nem rejeitá-la. Quando a hora chegar, o seu mundo dependerá dela para sobreviver — e você também.
Eu o amaldiçoo: se rejeitar sua companheira, estará condenando seus filhos à morte e a próxima geração de lobos à extinção.

Ela sorriu sinistramente e desapareceu no horizonte.

As nuvens negras sumiram e, de repente, o céu estava claro novamente.

Mas sua presença deixou um rastro de destruição, como se um tornado tivesse passado:

Casas destruídas, ruas em ruínas…

Pavor estampado nos rostos dos lobos da minha alcateia.

Mulheres chorando. Crianças gritando por suas mães.

O verdadeiro caos se espalhou.

Por um momento, permaneci imóvel, sem saber se aquilo havia realmente acontecido.

Como a Deusa da Lua pôde me castigar por causa de uma criatura tão fraca e mesquinha?

Saí dos meus pensamentos com a voz do meu beta:

O que vamos fazer agora, meu rei? — ele perguntou, com medo nos olhos.

Nada. Por enquanto, vou esperar essa criança humana crescer. E então, vou rejeitá-la.
Nunca transformarei uma humana inútil na rainha dos lobisomens — falei, com arrogância na voz.

Meu beta apenas assentiu com a cabeça, sem discutir, embora eu soubesse que ele desaprovava minha atitude.

O caminho de volta para casa estava coberto por escombros. Os ômegas já limpavam a bagunça.

Alguns estragos provavam que a Deusa da Lua não estava para brincadeira.

Mas eu já tinha a minha rainha escolhida.
Tamires nasceu para isso.

Ela era uma guerreira forte, capaz de enfrentar qualquer coisa.

Precisava de uma loba assim ao meu lado, para gerar filhotes fortes, dignos de governar como eu.

Passei por entre os membros da alcateia. Todos abaixaram a cabeça sem me encarar.

Mesmo irritados comigo, não tinham coragem de me desafiar.

Sabiam o quanto meu lobo era poderoso — e o estrago que eu podia causar.

Assim que entrei na casa da alcateia, Tamires se atirou em meus braços.

O que aconteceu? — perguntou, com a voz chorosa. — Eu não posso mais ser sua rainha?

É claro que você será minha rainha. Mas agora, preciso ficar sozinho e pensar no que fazer — respondi, subindo as escadas.

Ela me olhou com os olhos marejados. Mas eu sabia que era só teatro.

A raiva pelas palavras da Deusa ainda queimava em mim.

Mas o pior de tudo era o olhar daquela criança.

Não saía da minha mente.

Eu não sabia onde ela estava.

Mas quando colocasse os pés em Ottawa, eu a destruiria.

Sorri com esse pensamento sombrio.

Me deitei na cama, tentando clarear os pensamentos, mas acabei adormecendo.

Foi quando os pesadelos começaram.

Vi meu filho morrer nos meus braços.

Gritei, mas ninguém me ouviu.

Olhei para minha alcateia e vi os lobos definhando, um a um, até todos morrerem.

Entrei em pânico. Não havia ninguém para ajudar.

Estava sozinho, abandonado.

Acordei molhado de suor, com os olhos cheios de lágrimas.

E pela primeira vez na vida… com medo.

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