A equipe percorreu o terreno proposto para a construção do centro de convenções. As dificuldades eram visíveis: um lago malcuidado ocupava parte da área, havia um lixão nos arredores e os custos estruturais seriam altíssimos por conta da proximidade com a água. Tudo indicava que o local não era o ideal.
Heitor reuniu todos e, com sua voz firme, deu a ordem:
— Trabalhem os custos e estejam prontos para a reunião às quatro da tarde.
Mais tarde, a sala de reuniões estava silenciosa quando Augusto Ribeiro entrou.
— O Sr. Vasconcellos vai se atrasar, mas se unirá a nós mais tarde.
O clima aliviou, e os debates começaram. Julietta, dedicada, rabiscava números sem parar. Montou um esboço de orçamento e o entregou a Ribeiro, buscando aprovação. Mas o olhar dele a fez estremecer.
— Julietta… você acha que isso é o melhor que pode apresentar? — a voz dele era calma, mas carregada de crítica. — Sinto dizer que não. E garanto: o Sr. Vasconcellos também não ficará satisfeito.
O choque estampou-se no rosto dela. Ribeiro continuou, mais sério:
— Trabalhando ao lado de Heitor por tantos anos, aprendi uma coisa: ele sempre escolhe a pessoa certa para cada tarefa. Se ele confiou a você essa proposta, é porque enxerga um potencial que você ainda não descobriu. Agora, quanto a esse projeto… pense além das barreiras. O nome “Vasconcellos” estará nesse edital. Entenda a responsabilidade que carrega.
Julietta abaixou os olhos, sentindo o peso de cada palavra.
— Acredite — acrescentou Ribeiro —, quando lhe entregou o arquivo, Heitor já tinha os custos calculados em sua mente. Cabe a você superá-los. Volte ao trabalho e traga o melhor que puder. O Sr. Vasconcellos reagendou a reunião para amanhã, após o almoço. Troquem contatos e trabalhem como equipe. Este projeto é estratégico. Nosso CEO foi recentemente nomeado “Bilionário Jovem Mais Influente” e pode ser indicado ao cargo de embaixador da juventude, para incentivar startups no país. Isso trará prestígio a ele e à empresa. Façam jus à confiança que ele deposita em nós.
Ribeiro conhecia como ninguém a cultura da Vértice Global e sabia usar as palavras certas para motivar a equipe.
***
Julietta passou a noite debruçada sobre os cálculos com Rita e Theo. O engenheiro estrutural Paulo, jovem, entusiasmado e com domínio técnico, também se juntou ao grupo. Ele trouxe clareza às soluções e logo conquistou a confiança de Julietta, que sentiu nele um parceiro acessível e com energia positiva.
Na manhã seguinte, já na sala de conferências, Julietta ajeitou seus papéis. O coração batia acelerado, mas ela estava mais confiante de que Ribeiro aprovaria, desta vez, suas ideias. Expôs suas propostas diante dele.
Mas antes que o executivo reagisse, a porta se abriu e Heitor Vasconcellos entrou.
O ambiente gelou em um instante. Todos se endireitaram nas cadeiras. Do alto da mesa, ele percorreu cada rosto com olhar penetrante, até soltar um leve sorriso — apenas o suficiente para quebrar a tensão sufocante que dominava a sala.
— Então, como ficou a proposta? Srta. Sampaio, está pronta? — A voz de Heitor soou firme, implacável.
— Sim, senhor. — Julietta deslizou o arquivo sobre a mesa.
Ele folheou o documento em silêncio por alguns minutos. Então, fechou-o com um estrondo seco que fez todos se sobressaltarem. O som ecoou pela sala como um raio. Julietta sentiu o sangue sumir do rosto.
— Novecentos e cinquenta milhões para este projeto? — A voz dele carregava incredulidade. — Os números estão altos demais.
Virou-se para Paulo:
— Quanto custou o Marina Bay Sands, em Singapura?
— Aproximadamente 5,7 bilhões, senhor.
— E o World Trade Center? O Burj Khalifa?
— 3,9 bilhões e 1,5 bilhão, respectivamente.
Heitor apoiou as mãos sobre a mesa, os olhos faiscando.
— Então vamos comparar. Entendam a magnitude dessas construções e seus propósitos.
Durante uma hora inteira, ele guiou o grupo em análises intensas. Ao final, todos compreendiam melhor a visão e as expectativas de Heitor Vasconcellos.
— Este é apenas um centro de convenções — disse ele, pausado. — Mas, com o espaço limitado, transformaremos em um marco, um ponto que atraia atenção global. Agora me digam: que adições podemos incluir para torná-lo um lugar único?
Julietta respirou fundo e arriscou:
— Senhor, o lago malcuidado é um problema… mas também pode ser a solução. Podemos transformá-lo em um espaço recreativo: show de luzes, passeios de barco para crianças, caiaque, flyboard… atividades que atraiam famílias.
— Podemos acrescentar um complexo comercial, áreas de jogos — sugeriu Andréia, da arquitetura.
— Para ser mundialmente relevante, — acrescentou Paulo, — o centro deve acolher visitantes de todo o planeta. Podemos incluir um espaço cultural para celebrar a arte local, festivais e museus.
— Gastronomia internacional também é essencial — completou. — A comida é uma das maiores atrações.
Julietta voltou a falar, empolgada:
— Poderíamos criar um Centro de Caridade, um palco aberto para artistas de rua — música, dança, mágica — com a renda dividida entre eles e instituições beneficentes. Seria um espaço vivo, inclusivo, que traria público espontâneo.
Augusto Ribeiro sorriu, orgulhoso, diante da ousadia dela.
A sessão de brainstorming ganhou força, e Heitor observava em silêncio, satisfeito por ter provocado aquele ambiente criativo. Lançou um sorriso discreto a Ribeiro, que captou sua aprovação.
— Muito bem. As ideias são excelentes. Agora… incluam todas no orçamento já apresentado.
— O quê?! — o grupo reagiu em uníssono.
Julietta ficou boquiaberta.
— Senhor… isso é impossível.
Paulo tentou intervir:
— Talvez possamos adquirir o terreno do lixão e das terras baldias ao lado. Assim, teríamos espaço para essas novas estruturas. Mas, naturalmente, os custos disparariam.
Heitor virou-se novamente para Julietta, incisivo:
— Srta. Sampaio, você calculou tudo com base nos preços de mercado. Mas este é um projeto governamental. Teremos subsídios. Reduza os custos em dez por cento.
Julietta engoliu em seco.
— Está bem, senhor.
— E mais… corte a margem de lucro. De quinze, para quatro por cento.
— O quê?! — ela não conseguiu conter a incredulidade. — Isso não faz sentido!
O canto da boca dele se ergueu num sorriso calculado.
— Como já disse: é um projeto governamental. Teremos concessões, benefícios fiscais, taxas de royalties. Não trabalharemos de graça, Srta. Sampaio. — Pausou, cravando o olhar nela. — Mas trabalharemos com inteligência.