Capítulo 6

Após horas de cálculos, ajustes e discussões acaloradas, Julietta finalmente apresentou os números finais a Heitor: 730 milhões de dólares. O alívio foi imediato. Todos sorriram, trocando olhares de satisfação.

Heitor levantou-se, imponente.

— Vamos encerrar por hoje. Agradeço a contribuição de cada um. Continuem trabalhando com o mesmo entusiasmo.

Em seguida, entregou um formulário a Augusto Ribeiro.

— Sr. Ribeiro, preencha o documento da licitação e envie ao meu escritório.

Ribeiro franziu o cenho. Conhecia Heitor bem demais para acreditar que ele se contentaria com aquela cifra.

— Qual será, então, o valor da proposta, Sr. Vasconcellos?

A sala mergulhou em silêncio. Todos se entreolharam, confusos. Tinham acabado de passar horas exaustivas debatendo custos, e a pergunta parecia absurda.

Então, a resposta veio como um trovão:

— 650 milhões.

A voz dele soou mais alta do que o normal. Um brilho divertido cruzou seus olhos enquanto piscava para Ribeiro antes de sair da sala com passos firmes.

O impacto foi imediato: olhares arregalados, murmúrios surgindo como enxame. Augusto Ribeiro conteve o riso diante das reações atônitas.

— Srta. Julietta, venha até minha sala — chamou.

No escritório, explicou os detalhes, e ela preencheu cuidadosamente o formulário da licitação. Mas não resistiu à dúvida:

— Sr. Ribeiro… como isso é possível? De 730 para 650 não é pouca coisa.

Ele apenas sorriu, cheio de convicção.

— É possível quando se trata de Heitor Vasconcellos. Você precisa entender, Julietta: ele tem os próprios métodos. — Fez uma pausa, o olhar distante em alguma lembrança. — É um homem de negócios fascinante, tão estratégico quanto a mãe dele foi. Quando se observa Heitor de perto… é impossível não admirar seu estilo de trabalho.

A forma como Ribeiro disse “Heitor” e não “Sr. Vasconcellos” fez Julietta compreender a intimidade de anos de confiança e lealdade entre os dois.

***

Mais tarde, Julietta levou o formulário até o escritório do CEO. Heitor revisou cada linha, assinou e devolveu o papel.

— Srta. Sampaio, Nogueira está em viagem de negócios. Pode escanear o documento e encaminhar para este e-mail.

— Claro, senhor.

Aos poucos, Julietta já conseguia respirar sob a aura intimidadora dele. Descobria que, por trás da imagem de “O CEO da Vértice Global”, não havia arrogância — apenas o peso natural do poder.

— Use aquele laptop ali. O scanner está atrás de você.

Ela seguiu as instruções. Fez duas cópias extras, digitou a ata da reunião consultando suas anotações e organizou tudo em uma pasta marcada como “Projeto Centro de Convenções, 2023”.

— Senhor, devo entregar esta cópia para a Srta. Nogueira ou arquivar no gabinete?

Heitor ergueu as sobrancelhas, surpreso com a precaução.

— Arquive.

— Preparei outra cópia para referência do financeiro.

Um leve sorriso cruzou o rosto dele.

— Muito bem, Srta. Sampaio.

Julietta respirou fundo. Era sua chance.

— Sr. Vasconcellos, com sua permissão… gostaria de esclarecer algumas coisas.

Ele ergueu o olhar, interessado.

— Prossiga.

— Meu nome é Julietta. Às vezes o senhor me chama de “July”.

Heitor recostou-se na cadeira, surpreso e divertido com a ousadia.

— Oh… entendi. Certo, Julietta. — Fez uma pausa, os olhos fixos nela. — O que mais?

Uma batida discreta soou na porta. O chefe de segurança, Bernardo, entrou carregando um buquê elegante e uma cesta de presentes.

— Senhor, isto veio da Srta. Vanessa Lins.

— Deixe aqui. — Heitor respondeu com naturalidade. Lançou um leve sorriso às flores, depois voltou-se para Julietta.

— Então, Srta. Julietta. — Ele deu ênfase no último som do nome, como se testasse a pronúncia de propósito.

Ela correspondeu com um sorriso tímido antes de inspirar fundo.

— Quero lhe pedir desculpas por ter rabiscado durante a reunião. Nunca fui desleixada em compromissos profissionais e prometo que isso não voltará a acontecer. Foi algo que me corroeu por dentro, a ponto de eu passar o dia seguinte inteira tentando encontrá-lo para me desculpar. Pensei até em deixar um bilhete no seu carro. — A voz dela vacilava, mas não parava. — Eu só queria que o senhor soubesse que estou feliz e orgulhosa de trabalhar aqui, e mais ainda de ter sido recrutada após o estágio. Trabalhar sob a orientação do Sr. Ribeiro é um privilégio. Ele cuida de nós como um pai, nos dá liberdade para aprender e crescer. É um grande mentor.

Heitor apenas a escutava, sem interromper, os olhos fixos nela.

— Naquele dia — prosseguiu Julietta, nervosa —, eu estava tão abatida que meus amigos me arrastaram ao Hi-Roam, para me distrair com uma partida de sinuca, nosso passatempo favorito. Jamais imaginei encontrá-lo lá. Quero deixar claro, Sr. Vasconcellos: eu nunca o persegui. Nem antes, nem jamais farei isso.

Ao terminar, Julietta suspirou como se tivesse se livrado de um fardo que a sufocava.

— Terminou? — perguntou ele, sério.

Ela apenas assentiu, sem coragem de roubar mais tempo. Mas Heitor arqueou a sobrancelha.

— Tenho a impressão de que ainda há algo.

Julietta hesitou.

— É sobre a licitação, senhor… — Fez uma pausa, criando coragem. — Não sei se tenho direito de perguntar, mas… como é possível fechar aquele projeto por 650 milhões?

A surpresa virou riso contido no rosto dele.

— O mérito é seu, Srta. Julietta.

Ela arregalou os olhos.

— O senhor está brincando… Quer dizer, desculpe, Sr. Vasconcellos.

— Não. — Ele se inclinou para a frente. — A proposta que fez de incluir um centro de caridade é genial. Existe uma cláusula especial em licitações que garante financiamento do governo para projetos que contemplem ações sociais. Foi essa visão que nos deu margem. Bem feito.

E, para espanto dela, estendeu a mão.

Julietta congelou. O cérebro não acompanhava, mas o corpo, quase em câmera lenta, moveu-se para aceitar o cumprimento. A mão de Heitor era quente, firme, e por dois segundos que pareceram eternos, Julietta sentiu-se orgulhosa, elevada, como se tivesse crescido alguns centímetros diante dele.

O coração dela disparava sem explicação lógica. Mas sabia, intimamente, que jamais esqueceria aquele aperto de mão.

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