Capítulo 4

Heitor não conseguia acreditar. A calculista jogadora de sinuca e a funcionária tímida de Finanças eram a mesma mulher. Seus olhos percorreram mentalmente cada detalhe: vestido, postura, traços físicos… e a conclusão era inevitável. Julietta Sampaio.

Julietta, por sua vez, mal cabia em si. O simples fato de saber que seu chefe havia ganho uma aposta por causa dela já era motivo de orgulho secreto — mesmo que a situação fosse embaraçosa.

Antes que trocassem mais do que um olhar, Vanessa se despediu com um sorriso insinuante e puxou Heitor de volta para o lounge.

Julietta retornou para a mesa onde Rita e Theo a esperavam. O riso dos dois cessou quando viram a expressão dela.

— O que houve? — Rita perguntou.

Julietta contou tudo: o encontro no corredor, o olhar fulminante de Heitor e a acusação absurda de que ela o estava perseguindo.

Os dois se entreolharam e levaram as mãos à testa ao mesmo tempo.

— Achamos que jogar sinuca ia distrair você, mas parece que sua sorte resolveu brincar pesado. — Rita suspirou. — Se fosse realmente sério, ele já teria te chamado para se explicar. Então, relaxa. Pelo menos, você não vai precisar “persegui-lo” de novo.

Julietta se encolheu na cadeira. A palavra soava como uma sentença. Não queria ser vista como alguém obcecada pelo próprio chefe, e ainda assim… tudo apontava para isso.

Cansados, decidiram encerrar a noite.

***

Julietta tentou se convencer de que merecia descansar: um filme, depois a lavanderia. Mas a paz durou pouco. Um e-mail chegou em sua caixa de entrada.

“Compareça ao meu escritório amanhã cedo. Código de acesso em anexo. — H. Vasconcellos”

Frio, direto, sem explicações. Bastaram duas linhas para roubar todo o descanso do domingo. A cada hora que passava, o peso daquele chamado aumentava. Julietta não conseguia relaxar.

Na manhã seguinte, ela forçou uma expressão determinada antes de bater à porta. Por dentro, estava um caos. Mas sabia que mostrar fraqueza só a prejudicaria.

— Bom dia, senhor — saudou, a voz trêmula.

Heitor não respondeu de imediato. Apenas a observou por longos segundos que pareceram uma eternidade. Em seguida, empurrou um arquivo em sua direção.

O coração de Julietta disparou. Seus dedos tremeram ao segurar a pasta, certa de que era sua carta de demissão. Esperava ao menos uma explicação antes de ser dispensada.

Mas a voz de Heitor quebrou o transe:

— Srta. "July", sente-se. Leia este projeto e me dê sua opinião.

Julietta o encarou como se tivesse visto dois chifres brotarem de sua cabeça. Ele estalou os dedos diante dela, impaciente, e apontou para o arquivo.

Atordoada, abriu o documento. As letras se embaralhavam diante de seus olhos. Como poderia focar se passara a noite inteira imaginando seu fim naquela empresa?

Tudo o que precisava naquele momento era um instante longe daquele olhar incandescente, só para recuperar o fôlego. Mas com Heitor Vasconcellos, escapar parecia impossível.

Parecia que suas preces tinham sido atendidas. O celular de Heitor tocou, e ele se afastou para atender a ligação. Julietta soltou o ar, aliviada. Não seria demitida naquele dia.

Um fio de esperança se acendeu dentro dela: talvez aquela fosse sua chance de mostrar que era digna do cargo. Passara dias se martirizando pela imagem de funcionária inadequada e incompetente. Mesmo sem conseguir desfazer o mal-entendido, ainda assim Heitor havia confiado a ela um projeto importante. Isso, por si só, mostrava a grandeza do homem.

Enquanto o aguardava, Julietta refletia. Compreendia, naquele instante, que todos os prêmios e títulos conquistados por ele não eram mero acaso. Para chegar tão jovem a uma posição tão respeitada, era preciso ter visão além do comum, entender pessoas, prever situações e lidar com responsabilidades colossais. Heitor sabia calcular consequências como ninguém.

E se havia colocado aquele arquivo em suas mãos, cabia a ela apenas obedecer — e provar seu valor.

Determinada, Julietta começou a anotar pontos importantes. Quinze minutos depois, Heitor retornou e sentou-se diante dela, esperando sua análise.

— Sr. Vasconcellos — disse com firmeza. — O projeto não é viável.

As sobrancelhas dele se ergueram. A resposta curta o surpreendera.

— Por quê?

— O custo é extremamente alto. E, pelo que li no esboço, não faz sentido a Vértice Global se envolver em algo tão mundano.

Heitor reclinou-se na cadeira.

— Mas é uma licitação restrita. Poucas empresas receberam convite do governo. Por cortesia, a Vértice Global deve estar entre as propostas. Prepare um orçamento básico e uma alocação de fundos para o centro de convenções.

Julietta respirou fundo.

— Senhor, se vamos propor um orçamento e participar da licitação, significa que estamos tratando como um projeto autônomo.

— E você acabou de dizer que não era viável.

— Não volto atrás em minhas palavras, Sr. Vasconcellos. O relatório tem poucas informações para uma decisão sólida. Mas, com dados melhores, é possível transformar essa proposta em algo viável.

Heitor a encarou, intrigado.

— E como pretende obter esses dados?

— Sugiro uma visita ao local, com o apoio de alguns técnicos.

— Quem exatamente?

— Um engenheiro estrutural, um arquiteto e um corretor de imóveis, por ora.

Heitor chamou Jade e ditou os nomes necessários para a visita técnica. Julietta se sentiu mais aliviada ao saber que Augusto Ribeiro também participaria. Trabalhar ao lado de alguém conhecido lhe traria confiança — talvez fosse justamente essa a intenção de Heitor ao incluí-lo.

Com o arquivo e suas anotações em mãos, Julietta seguiu o grupo até o carro da empresa. Heitor, claro, partiu em seu carro, um Maybach Exelero, imponente, símbolo do poder que carregava até nos mínimos detalhes.

Capítulo 5:

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