CAPÍTULO 140.
O pavor me consome inteiro, me engole viva, quando vejo o corpo dele, quente ainda, ensanguentado em cima do meu. O peso morto me prende ao chão. A carne dele contra a minha. O sangue dele... nas minhas mãos. No meu peito. No meu rosto. No maldito chão da cozinha.
E o vidro. O maldito pedaço de vidro cravado no pescoço dele.
Fui eu. Eu causei isso.
Grito.
Grito como se minha garganta pudesse rasgar a realidade e me tirar daqui. Grito, empurro ele, arrasto o corpo dele pra longe de mim com nojo, com desespero, com as mãos tremendo. O som que o corpo faz ao bater no chão é o som do meu fim.
Minhas mãos tremem como se estivessem vivas por conta própria. Tento limpar o sangue, mas só espalho mais. Meus olhos correm o ambiente como se esperassem por socorro. Mas não tem ninguém pra me salvar.
Minha irmã tá caída perto do balcão, os cabelos sobre o rosto, desacordada. E meus sobrinhos...
- Ai, meu Deus... - sussurro, correndo pelos cômodos. Um, dois, três quartos. Até achar a porta trancada