CAPÍTULO 137.
A casa está mergulhada em um silêncio denso, como se até os móveis segurassem a respiração. Acabei de subir e já sinto o incômodo do tecido do terno contra a pele, sufocante como as máscaras sociais que sou obrigado a usar. Arranco a gravata com irritação, afrouxo os botões da camisa. Ainda ouço os passos dela hesitando lá embaixo, como se não quisesse que eu a ignora-se já que voltamos do shopping.
— Não descerei para jantar. Tenho trabalho para fazer. — foi o que disse, com a frieza calculada de quem já não tem energia para fingir gentilezas.
— Você está chateado? Pelo o que eu disse?
Paro. Sinto uma raiva contida e tênue, não por ela ter falado — mas por ter percebido. Pela forma como lê meus silêncios. Viro lentamente e a encaro. Seus olhos grandes, sempre tão abertos para o mundo, agora brilham com um receio infantil. Não esperava que ela fosse se dar conta tão rápido.
— O que você disse?
Ela hesita, como uma criança que sabe que está pisando num campo minado.
— Que ia namorar a