CAPÍTULO 136.

Eu odeio fazer compras. Principalmente compras de roupas com mulheres. O vaivém, os provadores, os sorrisos falsos das atendentes... a tentativa constante de parecer superior ou descolado. Tudo me dá enjoo. É um teatro de futilidade.

Mas por se tratar da minha ratinha, abro uma exceção.

Não porque sou altruísta, mas porque quero o privilégio de ver seus olhos brilharem. Quero tatuar essa imagem dentro de mim. Quero ver ela notar a diferença gritante entre vasculhar trapos sujos num brechó úmido e pisar sobre mármore polido enquanto as atendentes se curvam com sorrisos treinados.

Chegamos à loja de roupas. É uma daquelas grifes famosas com vitrines minimalistas e segurança na porta, como se o luxo ali dentro fosse algum tipo de santuário. Assim que pisamos no ambiente, as atendentes correm para mim.

Não para ela.

Claro. Ela ainda tem o rosto de menina, as roupas de uma sobrevivente e o andar cuidadoso de quem não se sente pertencente. Eles não veem nela uma cliente, veem uma sombra.

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