CAPÍTULO 118.
Darina.
Enquanto durmo, sinto que meu corpo pesa como concreto molhado. É como se estivesse afundando lentamente, presa num mar invisível que me suga sem pressa. Não sinto meus pés, nem minhas mãos, nem o mundo ao redor. É como se eu tivesse morrido, mas sem a paz que dizem que vem com a morte. Só o vazio. Uma ausência de tudo. Até mesmo de mim.
Minha mente tá apagada. Como um interruptor desligado num cômodo escuro. Não sinto dor, nem fome, nem medo. Nem saudade. Mas sei que algo tá errado. Algo dentro de mim grita — mesmo que sem som — por algo que foi arrancado à força. Algo que não volta mais.
Então, como se essa escuridão fosse feita de água pesada, uma porta aparece na minha frente. Ela surge devagar, como se estivesse sendo desenhada à mão no escuro. De ferro velho, enferrujada, com um rangido tão agudo que arrepia até a alma. Por trás dela, uma luz. Não quente. Fria. Quase indiferente. Mas é luz, e depois de tanta escuridão, qualquer coisa que brilhe parece promessa.
A porta s