Adam saía para correr todos os dias às cinco da manhã. Voltava suado, com os olhos perdidos na linha do horizonte, e mergulhava direto no chuveiro. Ana o esperava com café e pão quente comprado na padaria do bairro, o único lugar onde os rostos ainda eram desconhecidos e os olhares, desinteressados.
Por fora, estavam reconstruindo uma rotina.
Por dentro, apenas colando estilhaços.
Naquela manhã, Ana acordou com um sobressalto. Um pesadelo — Helena, sangue, gritos. A imagem se dissipou aos poucos, mas o desconforto permaneceu. Ela se levantou e foi até a varanda, encontrando Adam sentado ali, com uma xícara de café e a pasta de documentos que Miguel deixara.
— Você está olhando isso de novo? — ela perguntou, cruzando os braços.
Adam não respondeu imediatamente. Passou os dedos por uma das folhas, os olhos fixos.
— Essa lista... tem nomes que ainda estão vivos. Gente importante. Políticos. Empresários. Homens que sabiam de tudo e ainda caminham por aí como se não tivessem sangue nas mão