O painel da performance havia sido transportado com todo o cuidado para uma sala especial da Bienal.
“A mulher entre palavras” — era o nome que deram à obra na placa descritiva.
Mas, para Allegra, aquele quadro tinha um nome íntimo:
“O que restou de mim e ainda pulsa.”
Ela passava o dedo na borda do painel quando a curadora, Elisabetta, se aproximou com um envelope fino.
— Isso chegou pra você ontem. Mas achei melhor entregar só agora.
Depois que o furacão passou.
Allegra riu.
Ela ainda não tinha processado direito o furacão que foi pintar diante do mundo, com o coração escancarado e a música de Lucca dançando por trás de cada linha.
O envelope era azul.
Sem remetente.
Ela abriu.
“Você me deu permissão pra sentir.
Te assistir foi como escutar minha própria voz pela primeira vez, mesmo sem dizer uma palavra.
Obrigada por pintar com as entranhas.
— C.”
Sem nome.
Sem explicação.
Mas Allegra não precisava.
Ela sabia.
Era alguém que se viu nela.
E isso bastava.
De volta ao hotel, o celular