O trem para Veneza partiu ao amanhecer.
Allegra segurava o caderno contra o peito, como se fosse um escudo ou um bilhete de entrada para um mundo onde sua alma poderia ser lida em voz alta.
Lucca estava ao lado, com o estojo do violino e um olhar tranquilo — como se já soubesse que algo mágico estava prestes a acontecer.
Nenhum dos dois falava muito.
A viagem inteira parecia embalada em silêncio respeitoso.
Não era nervosismo.
Era reverência.
A cidade da água surgia diante deles como um sonho antigo.
Os canais, as pontes, as gôndolas balançando sob o sol pálido de primavera.
Era um lugar fora do tempo.
E Allegra sentia que cada pedaço da cidade estava esperando por ela.
A Bienal estava montada nos antigos pavilhões restaurados de Arsenale di Venezia — um labirinto de arte viva, performances experimentais e ideias que respiravam pelas paredes.
O espaço reservado para Allegra era uma sala retangular, de teto alto, com janelas que deixavam a luz entrar em fendas douradas.
No centro, o pa