O mundo reduziu-se à lâmina fria contra a pele do meu pai e ao som da minha própria respiração, ofegante e contida. A raiva era um fogo gelado nas minhas veias, alimentado por anos de submissão forçada e pelo instinto primordial de proteger o que era meu. Leo estava ferido. Leo era minha presa. Minha.
E então, ele riu. Não foi uma risada de escárnio ou de raiva. Foi uma risada profunda, genuína, que surgiu de dentro do peito dele e vibrou contra as minhas costas, onde eu o imobilizava. Um som tão inesperado e dissonante que por um segundo meus dedos afrouxaram a pressão no cabo do facão. — Pelos céus, — ele disse, a voz ainda carregada de um humor negro e perturbador. — Você é a viva imagem dela. Cada traço, cada centímetro de sua fúria… é a Beatrice que volta para me assombrar. Beatrice. O nome da minha mãe atingiu-me como um golpe físico no estômago. Uma imagem dela, não a mulher pálida e trancada no qu