Capítulo 2.

MATHEUS NARRANDO

Estou parado diante da janela panorâmica do edifício Araújos, a sede da construtora da qual sou um dos donos. O sol começa a se esconder atrás dos prédios da cidade, tingindo o céu com tons alaranjados que invadem minha sala silenciosa.

Lá embaixo, a cidade pulsa. Carros apressados, pessoas correndo para algum lugar, vidas passando como vultos… e eu aqui, imóvel, com o olhar perdido no horizonte.

Pensativo.

É raro me ver assim.

Nunca fui de me abalar , nem com perdas, nem com cobranças, e muito menos com as ameaças veladas do meu padrasto, Otaviano.

Mas dessa vez, ele passou dos limites.

— Casamento arranjado… comigo? — murmuro, debochado, como se dissesse a coisa mais absurda do mundo.

Otaviano quer unir a empresa a uma das famílias mais ricas e influentes da cidade, os Ferraz de Andrade. E a moeda de troca sou eu. Matheus. O maior mulherengo da cidade. O homem que já passou por mais camas do que a maioria das pessoas passa por portas. O cara que não se prende nem a compromisso de almoço, quem dirá a um contrato vitalício com aliança no dedo.

Se ele acha que vai me domesticar, vai morrer tentando, penso, com um sorriso torto no canto da boca.

Sou bonito, arrogante na medida certa, inteligente, com um charme cínico que derrete corações e causa confusão por onde passo. As mulheres me amam. Os homens me invejam.

Meu celular vibra sobre a mesa. É Otaviano de novo.

Ignoro.

Vou até o frigobar, pego um copo de whisky e bebo de uma vez só. O gelo queimando na garganta é melhor do que qualquer resposta que eu possa dar naquele momento.

A verdade é que, por trás dessa fachada de autoconfiança e sarcasmo, eu carrego cicatrizes que ninguém vê. A rejeição do meu pai biológico, o controle do meu padrasto… tudo isso moldou essa personalidade fria e calculista.

Mas se tem uma coisa que ninguém jamais vai tirar de mim, é o direito de escolher. E não pretendo abrir mão disso agora.

— Casar? — repito em voz alta, como se falasse com meu próprio reflexo no vidro — Eu? Logo eu?

Sorrio, debochado.

Vai ser interessante ver o Otaviano engolir essa resposta.

E naquele instante, tomo uma decisão silenciosa.

Se é um jogo que estão tentando jogar comigo, que se preparem. Porque eu, Matheus Camões , nunca perco.

decisão que tomei diante daquela janela não era só uma resposta, era uma promessa silenciosa a mim mesmo: ninguém me controlaria. Mas não era tão simples assim.

Otaviano não era homem de desistir fácil. Quando ele entra em um assunto, ele pisa firme e não sai mais.

No fim daquela tarde, enquanto eu ainda tentava digerir a ideia do casamento arranjado, meu telefone voltou a vibrar. Novamente, uma mensagem dele, curta, direta, autoritária.

“reunião amanhã cedo com os Ferraz de Andrade”.

Como se eu não tivesse escolha.

Passei a noite em claro, rodando na cama, pensamentos girando sem parar. Eu sabia que aquele casamento não era só sobre mim, era sobre poder, alianças, dinheiro. E quebrou um pouco da minha alma admitir que eu poderia estar sendo apenas um peão no jogo dos outros.

Na manhã seguinte, no escritório, o ambiente não ajudava. Reuniões, planilhas, e meu rosto precisava ser uma máscara perfeita de profissionalismo. Por dentro, a inquietação batia forte.

Durante a reunião com os investidores, tentei me concentrar nas planilhas e nas projeções de crescimento. Mas a mente voava para longe, pensando no que Otaviano estava armando, nas conversas que ele já tinha com a família Ferraz de Andrade, no futuro que ele queria me impor.

Quando a reunião finalmente acabou, e os investidores saíram, não consegui evitar.

— Otaviano — chamei pelo nome, firme, quando ele se aproximou para me entregar mais documentos —, podemos conversar? Eu preciso ser sincero com você.

Ele me olhou com aquele sorriso frio e calculista, o mesmo que usava para fechar negócios milionários.

— Fale, Matheus.

— Não quero esse casamento. Não quero ser um troféu político, não quero que minha vida pessoal seja negociada como se eu fosse mercadoria.

Ele arregalou os olhos, fingindo surpresa, mas conhecendo bem meu jeito, ele sabia que eu não era de brincadeira.

— Você não entende o que está em jogo — disse, como se eu fosse um garoto mimado.

— Não — respondi —. Eu entendo perfeitamente. Só não aceito.

Ele ficou em silêncio um instante, depois soltou:

— Vai acabar aceitando. Você é parte dessa família agora, quer queira, quer não.

— Isso é o que você acha — rebati.

A tensão no ar era quase palpável. Sabia que dali não sairia um acordo. Mas eu não podia recuar.

O resto do dia passou lento. Tentei me focar em tarefas simples, mas cada e-mail, cada ligação, me lembrava daquela conversa e da batalha que estava por vir.

Quando finalmente cheguei em casa, cansado e com o estômago apertado, vi Otaviano já sentado na sala, com um olhar diferente, mais sério.

— Tem outra coisa — disse ele, depois que me sentei —. Recebi uma ligação hoje cedo. Minha ex mulher faleceu ..

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