Matheus Narrando
A cada quilômetro percorrido, o motor do carro rugia como o reflexo da minha fúria. Meus punhos estavam fechados com tanta força no volante que os nós dos dedos ficaram brancos. Acelerei mais do que devia, como se a velocidade fosse capaz de dissolver a raiva que me corroía desde o café da manhã. A imagem de Valéria dizendo que iria esperar por Eduardo na porta de casa ainda martelava dentro de mim, como se fosse uma punhalada lenta e certeira.
O ar dentro do carro estava pesado, quente, sufocante. Eu sentia o suor escorrer pela nuca, mas não era calor, era a pressão que crescia no meu peito, quase insuportável. Engatei a marcha com brutalidade, avancei os sinais amarelos, e só parei de apertar os dentes quando avistei o prédio da empresa.
Estacionei bruscamente, respirei fundo e desci. O semblante dos funcionários na entrada mudou assim que me viram. Era automático: sorrisos, cumprimentos formais, vozes afinadas de respeito.
— Bom dia, presidente. — um dele