005

Svetlana sentiu o pânico invadi-la novamente. Virou a cabeça lentamente… e ele estava lá. Um homem de vinte e poucos anos, porte atlético, alto, vestido com extrema elegância, cabelos escuros e olhos penetrantes. Tinha surgido por uma porta que parecia brotar do nada, oculta entre os arbustos.

Seus olhos a observavam com uma mistura de curiosidade e diversão. Era como se estivesse desfrutando daquele momento, como se quisesse ver o que ela faria em seguida.

O medo a paralisou, e suas mãos perderam a força. Antes que pudesse reagir, o apoio cedeu e ela começou a cair. Mas não tocou o chão.

O homem foi mais rápido. Com um movimento ágil, cruzou a distância entre eles e a segurou no ar. O impacto do corpo dele contra o dela tirou o fôlego de Svetlana, e quando ergueu o olhar, encontrou aqueles olhos.

O mundo pareceu parar.

Ele a segurava com firmeza, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Seus olhos, que momentos antes brilhavam com zombaria, agora estavam tomados por algo diferente, algo que Svetlana não conseguia nomear.

— Quem é você? — perguntou ele, com a voz mais suave desta vez, quase um sussurro.

Svetlana não conseguiu responder. Sua mente era um redemoinho de medo e confusão.

Dante, por sua vez, estava fascinado. Ele a reconhecia. Mas o que ela fazia ali? Como havia chegado à Calábria?

Svetlana deu um passo para trás, suas sapatilhas rangeram contra o mármore frio do caminho, colocando distância entre ela e o homem que havia emergido das sombras com a naturalidade de quem a elas pertence. A desconfiança reluzia em seus olhos — um corte afiado de medo e desafio.

— Quem é você? — perguntou em inglês, o sotaque estrangeiro arrastando as palavras, sua voz trêmula, mas carregada de uma ponta de determinação. Seu olhar percorreu o desconhecido, analisando seu porte, o modo como usava o terno ajustado e a pistola à cintura, buscando qualquer sinal de que ele fosse aliado ou inimigo. — Por favor, não me denuncie.

Dante arqueou uma sobrancelha. Sua expressão oscilava entre confusão e uma centelha tênue de curiosidade.

— Denunciar você? — retrucou com uma calma perigosa, os olhos cinzentos, frios como aço, cravando-se nela com uma intensidade que dificultava até respirar. — Para quem?

— Para aqueles bastardos que me trouxeram até aqui — disparou Svetlana de imediato, embora uma centelha de consciência parecesse acender em sua mente. Seus olhos se estreitaram, examinando-o com mais atenção. — Dio mio… — sussurrou, levando uma das mãos trêmulas aos lábios. — Você é um deles!

Dante inclinou a cabeça, a expressão entre o espanto e o escárnio contido.

— Esse terno caro, esse jeito de dono do lugar… — continuou ela, apontando para ele como se tivesse desvendado um segredo obscuro. — Você deve ser um dos homens do capo.

Dante franziu ligeiramente o cenho.

— Que capo?

— O que manda aqui! — estourou ela, os olhos arregalados de pavor. — O monstro sem alma que mandou me sequestrar. Eu te imploro… por tudo o que é mais sagrado, me ajuda a fugir.

Suas palavras eram um rio de desespero, mas Dante permaneceu em silêncio, o rosto inexpressivo como uma máscara talhada em pedra — embora por dentro algo se agitasse, uma inquietação que ele não podia ignorar.

— Tenho uma irmã mais nova… — continuou Svetlana, dando um passo vacilante na direção dele. Suas mãos trêmulas se ergueram em súplica. — Ela deve estar apavorada, sem saber onde estou.

Dante fechou os olhos por um instante, como se precisasse de um fôlego para processar o eco daquelas palavras em sua própria consciência.

— Por onde você entrou? — perguntou Svetlana de repente, o olhar afiado, perscrutando as sombras atrás dele em busca de uma rota de fuga invisível.

O homem soltou um leve suspiro. Sua voz, enfim, emergiu — carregada de uma calma que parecia insultar o frenesi dela.

— Por que você quer fugir? — inquiriu com uma curiosidade que beirava a crueldade. — Não acha este lugar encantador?

Svetlana o olhou como se ele tivesse perdido o juízo.

— Encantador? — repetiu, a voz subindo de tom, tomada pela incredulidade. — Fui arrancada da minha vida, da minha família, por capricho de um bastardo cruel! Dizem que ele é um monstro que sente prazer na dor alheia. Por favor… — sua súplica virou um grito rasgado. — Me ajuda!

Dante sentiu um nó no estômago, uma fisgada inesperada. Era isso o que diziam sobre ele?

— Isso não é verdade — disse com firmeza, um brilho de indignação cruzando seu olhar gélido.

— Claro! — replicou ela com amargura. — Você jamais diria outra coisa. Custaria sua vida.

Ele balançou a cabeça, incapaz de compreender o peso daquelas acusações.

— Escuta… — tentou dizer, mas Svetlana o interrompeu com a fúria de quem está à beira do colapso.

— Disseram que ele matou uma garota só porque ela o olhou nos olhos.

Dante sentiu um soco seco no peito.

— O quê? Quem te disse isso?

— Não importa! — gritou ela, as lágrimas escorrendo pelo rosto pálido. — Só me ajuda!

Ele a observou em silêncio, os olhos presos àquela dor crua que ela deixava escapar entre soluços. Havia algo em Svetlana que o desarmava por completo.

Por fim, deu um passo à frente e segurou suas mãos, fazendo com que ela se levantasse.

— Eu vou te ajudar — sussurrou com uma suavidade que contrastava com a frieza de sua fachada. — Não vou deixar que ninguém te machuque.

Svetlana o fitou, os olhos marejados de lágrimas, mas neles brilhou uma centelha de esperança.

— Vai mesmo me ajudar?

— Sim — respondeu ele, assentindo.

— Como você se chama?

Dante hesitou por um segundo antes de responder:

— Gianluca.

Svetlana franziu o cenho, uma sombra de ceticismo atravessou sua expressão.

— Devo acreditar em você, Gianluca? O que você ganha me ajudando?

Dante baixou o olhar, procurando palavras que pudessem justificar aquilo que nem ele mesmo compreendia.

— Porque eu também quero fugir — confessou num sussurro que pesava toneladas.

Svetlana o encarou, boquiaberta de surpresa.

— Dio mio! Você também é prisioneiro desse monstro?

Dante não respondeu. Apenas esboçou um sorriso triste, carregado de significados ocultos.

—Andando — disse enfim, estendendo-lhe a mão. — Vou te mostrar o caminho por onde vim.

Svetlana tomou sua mão, com a dúvida pulsando no coração — mas também uma chama frágil, tênue... viva.

★★★★★

Svetlana avançava pelos corredores silenciosos da villa, com os passos ecoando suavemente sobre o mármore gelado. O som parecia zombar do estrondo de seu próprio coração, que pulsava num ritmo desgovernado. Mal havia conseguido se orientar pelos corredores labirínticos quando uma figura emergiu das sombras: um homem de porte robusto, com o rosto talhado pela dureza dos anos e um olhar gélido que transbordava perigo. Vestia um terno preto impecável, a camisa branca contrastando com o brilho escuro da gravata de seda. Seus olhos, tão frios quanto aço, a fitaram com uma mistura de interesse e suspeita.

—O que está fazendo aqui? —sua voz grave, carregada de autoridade, ressoou como um eco surdo no corredor.

Svetlana engoliu em seco, forçando-se a manter a compostura, embora suas pernas ameaçassem ceder.

—Fui trazida para o chefe —respondeu com um tom firme que desmentia o tremor interno.

O homem semicerrrou os olhos, avaliando-a com atenção. Por fim, soltou uma risada breve e seca, sem um traço de calor.

—Então é você a garota que o Fabio mandou buscar —murmurou, mais para si mesmo do que para ela, como se confirmasse um pensamento.

Antes que Svetlana pudesse responder, uma figura feminina surgiu no fim do corredor. Era Giulia, com o cenho franzido e um caminhar apressado que revelava sua irritação.

—Aí está você! —exclamou, agarrando o braço de Svetlana com brusquidão—. Que parte de “fique onde eu deixei” você não entendeu?

Svetlana não resistiu, mas tampouco desviou o olhar do homem que a interceptara. Ele, sem dizer mais nada, afastou-se para o lado, observando-a enquanto era levada.

—Você não faz ideia do problema que pode causar se andar por aí —rosnou a mulher, arrastando-a pelos corredores, passando por portas guardadas por homens armados.

Por fim, chegaram a um quarto iluminado pela luz suave de um lustre de cristal. O ar estava carregado com um aroma denso, uma mistura de tabaco, especiarias e perfume caro que contrastava com a frieza do resto da casa. Duas mulheres vestidas de preto aguardavam no interior, com os rostos impassíveis.

Sem perder tempo, começaram a atendê-la. Despiram-na com eficiência metódica e a mergulharam numa banheira de mármore cheia de água morna e óleos aromáticos. As mãos das assistentes se moviam com precisão, lavando seus cabelos, esfregando sua pele, como se quisessem apagar qualquer vestígio de seu passado. Svetlana permanecia imóvel, a mente aprisionada em pensamentos sombrios, imaginando o que viria a seguir.

Depois do banho, envolveram-na num robe de seda branca e a conduziram até um espelho antigo. Começaram a arrumar seus cabelos, penteando-os em ondas suaves que caíam com elegância sobre os ombros. Depois, aplicaram uma maquiagem sutil que realçava seus olhos azuis e os lábios com um delicado tom rosado.

Quando terminaram, uma delas trouxe um vestido de seda cor coral, leve como o ar e tão delicado que parecia um sussurro. Svetlana o olhou com uma mistura de assombro e temor.

—Vista-se —ordenou uma das mulheres, a voz tão fria quanto o aço de uma lâmina.

Obedecendo em silêncio, Svetlana deixou-se vestir. Recebeu um par de saltos prateados enfeitados com pequenos cristais que brilhavam sob a luz quente do quarto.

—Os pés dela estão destruídos —murmurou uma das mulheres ao calçá-la.

Nesse momento, um homem alto e esguio apareceu na porta. Seus cabelos já mostravam os primeiros fios brancos, mas seu porte exalava uma autoridade incontestável. Era Fabio. Sua presença preencheu o ambiente, e o silêncio tornou-se ainda mais denso.

—Ela é bailarina clássica —comentou com desdém—. É normal que os pés estejam assim.

Uma das assistentes quis retrucar, mas Fabio a calou com um olhar cortante. Em seguida, virou-se para Svetlana, examinando-a com frieza, como se estivesse avaliando uma peça de arte valiosa.

—Está perfeita —murmurou por fim, com uma expressão de aprovação calculada. Virou-se para sair—. Ela deve estar pronta em dez minutos. Alguém virá buscá-la para levá-la até Dante.

O nome ressoou na mente de Svetlana como um presságio. Um arrepio percorreu sua espinha.

—Quem é ele? —sussurrou, assim que Fabio desapareceu.

—Esse, menina tola, é o segundo no comando. A mão direita do chefe. É melhor mostrar respeito, se quiser sair daqui viva.

O coração de Svetlana acelerou ainda mais. Cada segundo a aproximava do monstro de quem tanto ouvira falar. Permaneceu em silêncio, sentindo o ar pesar em seus pulmões.

Quando as assistentes terminaram, uma delas colocou um colar simples de prata em seu pescoço.

—Está pronta.

Svetlana se encarou no espelho. A mulher que lhe devolvia o olhar parecia uma estranha: uma boneca bela, frágil e presa em um mundo que não era o seu.

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