Theodoro, um tenente renomado, luta contra crises psicóticas decorrentes dos traumas pós-guerra. Em uma de suas noites de desespero, ele busca refúgio na bebida, apenas para descobrir que sua parceira noturna não é uma prostituta comum. Surpreendido pela fuga dela na manhã seguinte, Theodoro se vê intrigado pela serenidade que ela trouxe à sua mente atormentada. “Quem é a acompanhante que me enviaram, esta noite?“ — “O senhor não solicitou nenhuma, senhor!“ Determinado a encontrar a mulher que temporariamente acalmou seus demônios internos, Theodoro se depara com ela inesperadamente num evento importante, mas a sua aparência está agora, muito longe se ser de uma prostituta. “Quem é aquela mulher tão bonita?“ — ele perguntou, parado no meio do estacionamento. “É a babá do seu sobrinho, tenente Almeida!“ — ele então deixa tudo de lado e vai atrás dela.
Leer másCAPÍTULO 1
Em um hotel de uma pequena cidade, como Guarapuava, Valéria respirava aliviada, havia conseguido encontrar um lugar seguro, depois de tantas cidades em que tentou se instalar. Não era a primeira vez que estava na mesma situação, desde que fugiu de Israel, país onde cresceu e viveu até o dia em que um acidente levou seus pais e também a sua visão. Sua mão enfaixada recentemente, trazia à sua memória, o que aconteceu da última vez que tentou fugir do seu irmão, mas ele a encontrou, ainda doía cada agressão. Segurando a chave do quarto, ela respirou fundo, tremendo, ajeitando sua bolsa pequena, sua bengala e seus óculos quebrados que acabara de guardar, resultado da fuga dessa manhã, ao ouvir a voz do seu agressor, conseguir desvencilhar-se e precisar abandonar seu emprego mais uma vez. Valéria sabia que não seria fácil, ainda mais quando se lembrava que precisou deixar dois irmãos pequenos aos cuidados de sua irmã, seu coração doía, porém a esperança de buscá-los um dia, fazia com que não perdesse a fé, precisava seguir em frente, também por eles. Ela precisou se concentrar, contar literalmente todos os passos que dava, tentando memorizar para não esquecer, usando sua bengala naquela completa escuridão onde estava agora, porém num local tão novo, parecia difícil. Sentiu um vento frio percorrer sua espinha e seus pés doerem de cansaço, precisava descansar. Deitou em sua cama, mas antes que o sono chegasse, Valéria se assustou ao perceber que havia esquecido de fechar a porta, ou alguém havia arrombado a fechadura. [Crrrr!] — Quem está aí? — praticamente saltou da cama, pegando sua bengala, quase sem respirar, se colocou em posição de ataque, mas ninguém respondeu nada. Trêmula, ela se concentrou no barulho. Sem visão, qualquer ruído poderia ajudá-la a identificar muitas coisas. Quando ela percebeu o movimento corporal tão próximo dela, não evitou em bater com força, mesmo com o pulso machucado e enfaixado, acertou a cabeça de Theodoro que chegava em seu quarto fixo daquele hotel. — QUE ISSO? FOMOS ATINGIDOS! — tenente Theodoro gritou ao se jogar no chão. Ele apenas havia bebido um pouco para aplacar a dor do noivado da mulher que ele sonhou em viver o restante da sua vida, e estava prestes a casar com outro. Mas desde que havia sido encontrado em Israel, quase morto pela guerra há dois anos, sofre com esses transtornos psicóticos, e um simples barulho pode desencadear muitas coisas, pois lembram tiros, bombas e granadas. Na volta para seu quarto, um barulho alto de um estouro lá fora, o deixou em crise, e com a pancada da moça, ele perdeu o controle, entrando em outro quarto — AHHH! — Com o susto, a bengala de Valéria caiu no chão, quando ouviu aquele grito novamente... — SOLDADO ATINGIDO! SOLDADO ATINGIDO! SOCORRO! — O grito que ela conhecia muito bem; de desespero, dor e medo, que tantas vezes ajudara a acalmar em Israel. — TIROS! GRANADA! Ela se abaixou nervosa, apalpando o chão até encontrar a bengala novamente, então se levantou inquieta, convencida de que estava ficando louca. Preferiu contar três passos e sair do quarto, agora duvidava que seria o seu, e aquele não deveria ser o seu soldado, mas ouviu novamente: — AHHHHH! AHHHHH! BOMBA, BOMBA! PRECISAMOS CORRER! — por Deus, era ele! Aquela voz era dele, o homem a quem ela salvara em Israel, mas como? Seria um milagre encontrá-lo? — ME AJUDEM! — Os gritos se tornaram mais audíveis, então ele parecia chorar, seus movimentos no chão eram perceptíveis. Sua voz e seu cheiro eram inconfundíveis. — Eu estou aqui, se acalme! É você, não é? Como viemos parar no mesmo país? — aproximou-se dele, o acalmou, e o ajudou a deitar na cama. Colocou a bengala no chão e corajosamente pôs as mãos sobre ele. Emocionou-se ao encontrar sua mão, segurou-a com firmeza, encostou seu corpo ao dele e sentiu-se em casa. Quando encontrou aquele homem quase morto pela guerra em Israel, ela também estava morta por dentro, sem expectativas, e ajudá-lo a sobreviver foi sua cura diária. — Que bom estar com você de novo! — aconchegou-se, sentindo uma emoção prestes a explodir no peito, como pequenas bombas de alegria expandindo dentro dela. Por um momento, perguntou-se se seu momento havia chegado... Deus havia se lembrado dela? Pois agora sabia que não era um sonho; era real, ele estava ali. Como tantas outras vezes, ele parecia febril. Quando ouviu sua voz, parou de gritar e a puxou para si. Puxou-a tanto que ela colocou o ouvido sobre seu coração e ali permaneceu por um tempo, ouvindo suas batidas enquanto o acalmava: — Shiii, estou aqui com você! Sinta minhas mãos, estão quentes... — sentiu um vento fresco vindo da porta, afastou-se com dificuldade e fechou-a. Tirou o hijab que cobria a cabeça, transbordando de alegria, deitou-se sobre ele novamente. — É tão bom estar sobre você! Antes você estava tão quebrado, agora está tão forte... — sussurrou as últimas palavras enquanto tocava seus braços e notava sua nova força, passaram dois anos desde que estivera com ele. Curiosa, passou as mãos pelos cabelos, agora um pouco mais longos; antes estavam raspados. Tocou seu rosto cuidadosamente e percebeu que ele estava acordado, provavelmente olhando para ela. Parecia ter saído daquele transe, do pesadelo terrível em que estava. Segurou a mão que o tocava e por um momento ela hesitou; talvez ele não se lembrasse dela. Mas não... ele beijou seus dedos e a puxou completamente para a cama, ficando sobre ela. — Está melhor? — ela perguntou. — Estou ótimo... nossa, você é linda! Como veio parar aqui? — sua mão tocou o rosto dela e ela inclinou a cabeça para trás, relaxando na cama. — Eu não sei... — então ele a beijou. Ela só havia sido beijada uma vez, um rapaz que fez uma aposta que beijaria a moça boba e cega da escola, e isso com quase quinze anos, então nem contava. Seu corpo amoleceu inteiro, ele a beijava e cada célula do seu corpo implorava para que não parasse, era simplesmente maravilhoso, havia um leve gosto de bebida, ele parecia ter bebido um copo de vinho ou algo do tipo. Naquele momento ela se entregou verdadeiramente àquele homem, esquecendo seus medos, traumas e problemas... porém uma frase balbuceada quando ele estava prestes a pegar no sono, a quebrou completamente: — Quando sair feche a porta, farei o pagamento depois! — em choque ela colocou a mão no peito, uma lágrima escorreu dos seus olhos, e num salto levantou daquela cama. “Ele não se lembrou de mim!“ Uma repulsa e uma dor muito grande a atingiu. Não pensou em mais nada, simplesmente se abaixou procurando a bengala branca. — Acontece que estou no meu quarto. Vá embora você! — em fúria, Valéria atacou aquela bengala naquele homem com força. — AI! QUE ISSO, SUA LOUCA! O QUE PENSA QUE ESTÁ... — ele falou alto, mas Valéria não queria ouvir mais nada, ergueu a bengala na altura da cabeça e deu mais vezes, até que Theodoro levantou meio atordoado. — SAIA DO MEU QUARTO! OU VOU CHAMAR A POLÍCIA! — ela gritou com raiva, e sem entender ele vestiu apenas uma cueca e saiu pelo corredor, percebendo que realmente não era seu quarto.FINAL Narrativa final da autora Três meses se passaram rapidamente. Hoje é a reinauguração do orfanato, ele está lindo. Os dormitórios estão modernos, com um amplo refeitório, sala de brinquedos incríveis, proporcionando a alegria de todas as crianças, de todas as idades que ali vivem, que trará muitas alegrias. Uma nova quadra de esportes, um grande salão para festas, e Vinícius comprou toda a parte decorativa que pode ser desmontada e guardada para novos eventos, principalmente de aniversário dos pequenos. — Meu tenente, tem certeza que não esquecemos de convidar ninguém? — Valéria pergunta quando se depara com o salão vazio. — Claro querida! Chegamos bem antes, nem a equipe chegou ainda. — Vinícius sorri para Valéria e as crianças, que começam a ocupar o lugar. Os pais de Vinícius são os primeiros a chegar, Beatriz ainda usa muletas, mas já está bem melhor. Anelise veio com Vicente, Samuca, seus pais, e também Nayara, sua irmã. Paola e Mess
CAPÍTULO 136 Narrativa da autora Paola é uma moça difícil de lidar, uma pessoa arrogante, mimada... Messias também não é fácil, tem pulso firme, ao ser rejeitado por ela, mudou a tática. Debochado, mostrou ter virado a página, ela viu que esse era diferente da maioria, o que a fez questionar, se era esta postura que ele demonstra, que chama mais a sua atenção? Ao se sentir ameaçada a perder o que queria por capricho, viu que ele não se deixava dominar, voltou atrás... e entre brincadeiras e deboches, se deu uma oportunidade, entendendo o recado de Messias, que teria que mudar para estar ao lado dele, caso contrário, não daria certo... bom, isso era o que ela estava precisando, de um pulso firme, que não a coloca num pedestal porque tem dinheiro, era alguém assim que ela precisava ao seu lado, que a colocasse no eixo. Ela decidiu ficar ali com ele. Tenente Soares não incomodou mais. Expulso do quartel, ele ainda foi transferido para uma penitenciária comum, sem di
CAPÍTULO 135 Valéria Muniz Meses depois Tudo tem sido maravilhoso, sentir meus dois tesouros se mexendo dentro de mim, passar as mãos na barriga, conversar com eles. “Aiii!” — suspiro ao abrir e fechar os olhos quando os sinto. São momentos tão únicos, que fico me perguntando se depois também não sentirei falta de fazer isso, então eu lembro que logo os terei em meus braços, e tudo fica ainda mais perfeito. Descobrimos que se trata de um casal, para a felicidade completa das crianças... um menino e uma menina. — Vocês gostam de conversar, não é? Então se mexam para sua irmãzinha sentir... ou são tão sapecas que só mexem para o papai? — falei mole com os pequenos, sentindo aquele reboliço gostoso, e Joaninha gargalhou, emocionada quando conseguiu senti-los. — Você viu, Val? — Eu vi meu amor! Eles te adoram. — ela sorriu, mostrando a janelinha do dente que acabou de cair. — Val, qual será os nomes dos meus irmãozinhos? — Joaninha pergu
CAPÍTULO 134 Theodoro Almeida / Vinícius Cardoso Eu não poderia estar mais feliz, ao lado de tantas pessoas que são importantes pra mim, e principalmente a minha esposa e meus filhos. Não posso registrar os irmãos da Val como meus filhos também, até porque, a minha sogra já solicitou a guarda deles, mas no meu coração eles já são, cuidarei deles enquanto eu viver, junto com a Joaninha, os gêmeos, e talvez até mais algum filho que Deus nos enviar. . Passaram-se os dias, e hoje teremos um grande almoço em família. Meus pais estarão presentes, com toda a nossa família, inclusive Paola, que vive reclamando que vai embora sei lá o motivo, mas nunca vai, dizendo que não gosta de ficar longe de mim, mas acredito que faça isso para irritar Vicente, já que adora. Valéria viu nesse momento, uma oportunidade de trazer o avô para mais perto, que foi o verdadeiro motivo da festa, junto é claro, com o anúncio que teremos dois bebês, para esse avô e parentes que aind
CAPÍTULO 133 Theodoro Almeida / Vinícius Cardoso Enquanto entrávamos na sala, a enfermeira foi falando: — A sua esposa acordou, sente-se aqui ao lado dela, o médico já vem, e também vou buscar os exames. — assenti já na sala, mas eu só conseguia olhar pra ela, não conseguia falar nada. — Você está bem, Vinícius? — olhei pra ela espantado, tentando entender as coisas, observando se algo havia mudado nela, além de estar ainda mais bonita, mas não cheguei a conclusão nenhuma. — Era eu quem deveria perguntar, me desculpe! — segurei sua mão e dei um beijo suave. — Não se preocupe, acho que foi o nervoso, coitada da minha mãe, aqueles dois não mudam nunca! — fiquei mais perto, com a sua mão perto da minha boca, observando que seu rosto estava pálido. — Não pense nisso agora, Ezequiel dará seu jeito! — ela assentiu, encostando melhor a cabeça na maca em que estava. Momentos seguintes: Sentamos diante do médico, assim que ele entrou, que sorriu gentil
CAPÍTULO 132 Vinícius Cardoso Olhei para todos rapidamente, segurei na mão da Val, porque Ezequiel estava perto de dona Joana, com certeza não permitiria que acontecesse nada de ruim com ela. — E, pensa que acredito nessa ladainha? Você sempre nos viu como filhos da outra! — Aaron falou com raiva, chegou a cuspir no gramado, vi que Ezequiel não gostou. — Eu cuidei de vocês como filhos, como pode dizer isso? Nunca contei para os outros a verdade, e... Raquel! Raquel, minha filha, explique para seu irmão. — Joana se moveu rapidamente, tocando no braço da Raquel, que quase a derrubou, para se soltar. — Ele sabe melhor que eu das coisas! Nem sei porque voltou agora, se queria fugir com outro macho, fosse! Agora porque matar meu pai!? — de repente o semblante da Val e da dona Joana ficaram assustados, dona Joana colocou a mão no peito, se apoiou na mesa. — Se quiserem eu os tiro daqui. — Ezequiel propôs, mas Joana negou. — Não! Eles são meus filhos,
Último capítulo