Otávio Narrando
O caminho até o hospital foi o mais longo da minha vida, mesmo durando só alguns minutos.
Ela estava no banco do carona, encolhida, suando frio, sem conseguir me encarar. Murmurava coisas entre os dentes, e às vezes só respirava como se tivesse correndo há horas. Eu dirigia com uma mão no volante e a outra segurando a dela, mesmo com os dedos dela quase sem força pra retribuir.
Quando chegamos na emergência, gritei por socorro antes mesmo de parar o carro direito.
— Ela tá passando mal! Precisa de ajuda agora!
Os enfermeiros correram. Uma mulher apareceu com uma cadeira de rodas, e eu a coloquei ali, mas ela relutava em me soltar. Só soltou quando uma médica pegou sua mão e disse:
— Vai ficar tudo bem. A gente tá aqui, tá bom?
Vi ela sumir pelos corredores, levada por estranhos de jaleco branco, enquanto eu ficava parado na porta da emergência, com o peito esmagado por dentro.
A recepcionista pediu os documentos. Eu respondi no automático. Nome completo, idade, endereç