Continuação.
O silêncio entre nós era espesso, sufocante.
A lâmina ainda roçava meu pescoço, mas o olhar de Alice parecia perdido em algum lugar entre a realidade e o passado. Ela respirava com dificuldade, como se estivesse segurando um grito há muito tempo preso na garganta.
— Você sabe... — ela começou, com um tom quase doce — no início... eu até gostava de você.
Pisquei, surpresa com a mudança repentina em sua voz.
— Eu achava você engraçada... gentil. Me ajudou na empresa, me tratava bem. Eu até cheguei a pensar que a gente podia ser amigas...
Ela se afastou um passo, olhando ao redor da sala como se procurasse memórias invisíveis.
— Mas aí eu descobri. Que você era ela. A ex que ele nunca esquecia. A que ele amava de verdade.
Alice voltou a me encarar, e seus olhos agora brilhavam com lágrimas — não de dor, mas de raiva contida.
— Quando percebi que vocês tinham voltado a se envolver... — ela riu, amargamente —... tudo desabou aqui dentro. Tudo. E eu percebi...